Os 100 primeiros dias do Governo Bolsonaro

Saindo do recesso quaresmal para desembarcar novamente na agonia nossa de cada dia, vamos usar o teclado como espanador para tirar a poeira deste espaço. E, na lista de prioridades das pautas atrasadas aqui no Blog, nenhuma é maior do que a análise sobre os 100 primeiros dias do Governo Bolsonaro.

Que foram os 100 primeiros dias mais agitados desde pelo menos a Collorstroika de 1990, ninguém duvida. Enquanto o ex-presidente confiscou a poupança, mandou pra rua milhares de servidores públicos e prometeu matar o “dragão da inflação” com seu único tiro, Bolsonaro lançou o país numa espécie de Big Brother tuiteiro, com direito a incessantes embates entre o guru Olavo de Carvalho e o seu vice, Hamiltou Mourão; entre Mourão e Carlos Bolsonaro; e entre Carlos Bolsonaro e o resto da humanidade. Entrementes, o Presidente ainda achou tempo para bater de frente com Rodrigo Maia, travar por uma semana o aumento do diesel da Petrobras e até mesmo mandar tirar do ar, hoje, um comercial do Banco do Brasil.

No meio de tudo isso, a pergunta que não quer calar é: “e agora?”

Bom, para quem esperava que a liturgia do cargo moldasse um presidente, os primeiros 100 dias de Governo mostraram que não houve estelionato eleitoral. Bolsonaro continua sendo exatamente quem sempre foi durante toda a sua carreira parlamentar. Se houve quem acreditasse na “conversão das urnas”, bem, aí o problema está em quem votou, não em quem recebeu o voto.

Embora analistas mais céticos – incluindo este que vos escreve – não esperassem grande coisa desses primeiros 100 dias, deve-se reconhecer que, até aqui, o conjunto da obra surpreende. Não só porque o Governo foi incapaz de montar minimamente uma base de articulação política, mas também porque a trupe bolsonarista conseguiu a façanha de produzir crises em série a partir do nada.

Nem se fale, por exemplo, do escatológico vídeo do golden shower tuitado por Bolsonaro durante o Carnaval. Que dizer das trapalhadas de Ricardo Vélez no seu curto mandarinato à frente da Educação? Ou da tentativa de transferir para o escalão inferior o direito de classificar documentos como ultrassecretos, só pra se ver desautorizado depois pelo Congresso?

Em todos os casos, a crise saiu do nada e para o nada retornou, deixando zero de resultado e um monte de ruídos. Tal é capacidade do Governo de fabricar problemas para si mesmo que, até o momento, a oposição encontra-se em luxuosa ociosidade, sem saber o que fazer para superar a trupe bolsonarista na arte de tornar mais difícil a vida do Governo.

É verdade que a grande bandeira econômica do Governo chegou a caminhar. No entanto, a Reforma da Previdência levou dois meses para ultrapassar o estágio mais simples de sua tramitação (a CCJ), enquanto o Governo Temer alcançou o mesmo resultado em apenas uma semana. Limada de todos os seus jabutis, a proposta chega à fase da comissão especial sem gordura para queimar. Ou seja: tudo que se negociar a partir de agora interferirá diretamente na “conta do trilhão” de Paulo Guedes, fato que inevitavelmente deve mexer com os humores do mercado, grande fiador do Governo.

Do outro lado da Esplanada, o “pacote anticrime” de Sérgio Moro anda a passo de cágado no Congresso e pode ser elevado à condição de tartaruga tetraplégica nas próximas semanas. Tudo vai depender da (in)habilidade do ex-juiz de Curitiba de negociar a agenda de votações com Rodrigo Maia, cujos olhos não enxergam outra coisa senão a reforma proposta por Paulo Guedes.

Somando umas coisas e outras, a grande conclusão a que se chega é que não importa o que se passaram nestes últimos 100 dias. O problema é o que eles prenunciam para os próximos 1360.

A julgar pela experiência, boa coisa é que não deve vir.

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