Muito barulho por nada, ou O problema do silêncio eleitoral

Parece que algo assim já foi dito antes. E foi mesmo.

Quatro anos depois, estamos de volta às eleições presidenciais. A menos de duas semanas do primeiro turno, já se sabe que Bolsonaro e Haddad disputarão a segunda ronda, enquanto os demais candidatos, cada um do seu jeito, vão fazendo uma espécie de figuração de luxo para o telespectador em casa. Noves fora o desperdício de tempo e de dinheiro público com um espetáculo tão farsesco, a pergunta que fica boiando no ar é: o que os pretendentes a Presidente propõem para o eleitor?

Ninguém sabe. Nem eles mesmos, provavelmente. Até agora, os grandes “debates” na corrida presidencial foram (não necessariamente nessa ordem): 1 – a facada em Jair Bolsonaro; 2 – a substituição de Lula por Haddad; 3 – o temperamento de Ciro Gomes; 4 – a quantidade colossal de dinheiro jogado no mato por Henrique Meirelles; e 5 – Cabo Daciolo orando e jejuando em um monte qualquer do Rio de Janeiro. Para os graves problemas da República, nada; apenas um som irritante de um grilo soando ao fundo.

Quais são, por exemplo, as propostas dos candidatos para o problema da segurança pública? De Jair Bolsonaro, sabe-se que pretende distribuir um fuzil a cada “cidadão de bem”, que deve se virar para matar alguém que queira lhe roubar. Dos outros, pouco ou nada se sabe. O que pensam os candidatos sobre a unificação das polícias civil e militar? Como combater o tráfico de armas e drogas na fronteira? Como fazer a integração da inteligência entre os diversos ramos da segurança pública? Silêncio.

Quais são, por exemplo, as propostas dos candidatos para o problema da Previdência Pública? Ciro Gomes fala em instituir um regime de capitalização. Beleza. Resta saber o que fazer com os 30 milhões de aposentados que recebem o benefício vinculado à contribuição do pessoal da ativa. Como cada um vai contribuir pra sua própria aposentadoria e dane-se o resto, quem vai pagar a conta de quem já está na inatividade? Silêncio.

Quais são, por exemplo, as propostas dos candidatos para resolver o gigantesco déficit público legado por Dilma Rousseff e agravado por Michel Temer? Fernando Haddad fala em revogar o teto de gastos e aumentar a despesa pública para aumentar a arrecadação com a retomada da economia. Jóia. Como fazer, então, para convencer os credores da dívida de que o Brasil simplesmente não dará o calote se for retirada a única salvaguarda que mantém o país respirando por aparelhos no mercado de crédito? Silêncio.

No final das contas, a corrida presidencial resume-se a um festival de intrigas e traições que se renova a quatro anos, sem que os problemas do mundo real se dignem a aparecer na telinha da TV. Enquanto marqueteiros e candidatos debatem-se sobre a melhor estratégia para aumentar sua parcela no eleitorado, o Brasil profundo, duro e e cruel, fica esquecido na propaganda, como se pudesse esperar até a virada da folha do calendário.

É triste, portanto, constatar que o evento que deveria representar o ápice de qualquer democracia – a escolha do maior mandatário da Nação – tenha se precipitado em um jogo fútil de alianças desconexas, cujo resultado é sempre o mesmo: a enganação do eleitor e a tunga no seu bolso.

Ou o brasileiro começa a exigir que os problemas reais do país sejam tratados com a dignidade que merecem durante a corrida eleitoral, ou o voto será apenas um equívoco que se renova a cada quatro anos.

É esperar pra ver.

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