Semana especial de aniversário – O Brasil em 2016

Como todo mundo sabe, desde o ano passado o Dando a cara a tapa abandonou os tradicionais posts diários para contentar-se com um único post semanal, às quartas-feiras. Tal se deu em virtude de restrições de tempo do Autor, às voltas com ocupações outras que acabam por limitar minha capacidade de vir ao computador para teclar alguma coisa que faça sentido.

No entanto, nesta semana especial de aniversário, voltarei excepcionalmente ao estilo anterior, para comentar minhas expectativas sobre este 2016. Serão três posts: um sobre Política Nacional; outro sobre Economia; e o último sobre Política Internacional. Ao final, espero apresentar-vos um panorama geral sobre este ano que se inicia.

Pra começar, vamos ver o que se deve esperar para um certo país situado quase que totalmente ao sul do Equador.

O Brasil em 2016

Pois é, galera. Ano novo, vida nova. Mas, no Brasil velho de guerra, as coisas  jamais pareceram tão velhas.

Após a intervenção do Supremo no processo de Impeachment, o clima político pareceu arrefecer. Houve quem creditasse isso ao descrédito da população com a estratégia oposicionista de remover Dilma Rousseff antes de completado seu segundo mandato. Houve, ainda, quem atribuísse a desanuvio do ambiente à própria oposição, que teria entregado os pontos após a derrota no STF. Cético como só eu, não acredito que aconteceu nem uma coisa nem outra. Pra mim, a relativa calmaria do bimestre final de 2015 deve-se a algo muito mais prosaico e banal: as celebrações de fim de ano.

Na verdade, desde sempre o período natalino exerce uma atração quase irresistível para a alienação da população. Melhor explicando, no Natal ninguém dá mais a mínima para o que acontece no Brasil, que dirá no mundo. Salvo alguma hecatombe de proporções apocalípticas, todo mundo prefere cuidar de sua ceia e comprar os presentes da criançada. Se Dilma ou Cunha vão ou não cair, pensa o cidadão comum, é algo que pode ser tratado muito bem depois do réveillon. Não por acaso, todos os presidentes, em todas as épocas, experimentaram aumento de suas popularidades na virada do ano. Para alguns, tratava-se apenas de refresco (caso de Fernando Henrique em 1999). Para outro, cuidava-se de fazer ferver sua idolatria popular (caso de Lula em 2010). Com Dilma, portanto, não havia razão para pensar que seria diferente.

A despeito do efeito benfazejo do calendário sobre o ambiente político, a presidente não tem muito o que comemorar. Sua popularidade saiu de miseráveis 8% para ainda ridículos 10%, com ainda praticamente dois terços do eleitorado querendo vê-la pelas costas. No Congresso, o recesso fez cessar a máquina de produção de bombas na qual se converteu a Câmara dos Deputados. Sem quórum, a House of Cunha deixou de funcionar à razão de um susto por dia para a presidente, algo que certamente contribuiu para aumentar o clima de tranquilidade geral.

Mas, como se sabe, tudo que é pastoso se dissolve no ar. Olhando-se a fundo, todas as condições que levaram o país à sua maior crise política e econômica em mais de meio século continuam lá. O Governo continua sem maioria para governar, e nada leva a crer que conseguirá reverter o quadro até 2018. A Oposição continua sem corpo e sem cara, isto é, sem propostas para reverter a débâcle promovida por Dilma Rousseff e sem um rosto a personificar alternativa à sua administração (Temer? Aécio? Marina?). Enquanto isso, a economia definha a olhos vistos, com um previsível aumento explosivo do desemprego nos próximos meses.

Do lado da Lava-Jato, tampouco há esperança de que a Operação esteja perto do fim. Pelo contrário. Agora é que o bicho vai pegar. Com a volta do recesso, o Supremo deve analisar o pedido de afastamento de Cunha da presidência da Câmara e, como o Ministro Teori Zavascki já sinalizou, os inquéritos contra parlamentares vão começar a andar. Tudo isso e mais uma imponderável leva de delações premiadas, com destaque para uma possível adesão do ex-líder do Governo no Senado, Delcídio Amaral, cujas consequências ninguém em sã consciência seria capaz de arriscar.

Tudo considerado, pode-se concluir que o clima de harmonia que aparentemente se instaurou país desde dezembro passado não veio para ficar. Não se sabe se será no começo de fevereiro, com a volta do Congresso e do Judiciário do recesso. Também não se sabe se será só depois do Carnaval, para manter a tradição política brasileira. Mas o fato é que, mais hora, menos hora, ele acabará. Quando isso acontecer, o Brasil terá despertado no meio do segundo ano consecutivo de recessão, com a nau política à deriva e sem qualquer perspectiva de mudança até 2018.

Grandes emoções nos aguardam até o próximo Natal.

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