O Blog anda numa fase meio contemplativa, isto é fato.
Se é assim, vamos recordar um dos primeiros posts bipolares, ou seja, um post que está relacionado a mais de uma categoria.
No caso, duas das mais negligenciadas seções deste espaço: Artes e Dicas de Português.
Porque relembrar é preciso…
Refletir é preciso
Publicado originalmente em 15.2.11
Navegar é preciso; viver não é preciso.
É, eu sei, você já viu isso antes. Mas você já parou pra refletir sobre essa frase?
O primeiro impulso é ler preciso como verbo, no sentido de necessário. Navegar é necessário; viver não é necessário. Salvo se o sujeito for o Jack Sparrow ou fizer parte da população do Pérola Negra, a frase não faz sentido. Já viu alguém navegar morto?
Em favor da tese “verbal”, há Plutarco. Foi ele que, ao escrever a Vida de Pompeu, atribuiu ao personagem a seguinte frase para animar os marinheiros com meo do mar: Navigare necesse; vivere non est necesse.
Mas, pelo menos pra mim, a melhor interpretação de preciso é entendê-lo como adjetivo. Navegar é preciso; quer dizer, navegar é exato, é calculado, é inequívoco. Viver não é preciso; viver é inexato, é invulgar, é algo que não obedece a regras .
Entendida assim, a frase ganha um quê de existencialismo. Como se estivéssemos a todo instante a descobrir-nos e a criar-nos a nós mesmos. Estamos em constante formação, e é um tanto inútil tentar guiar nossa vida por meio de planos e regras pré-definidas (isso não se aplica a projetos de mestrado).
Navegar é precisão. Viver é improviso.
Pra desopilar, mais uma versão da frase, agora na música Os Argonautas, versão do Caetano e do Chico: