O Ice Bucket Challenge, ou O viral do bem

Há mais ou menos três dias, fui apresentado ao Ice Bucket Challenge. À primeira vista, parecia mais uma daquelas correntes sem sentido que invade a Internet e, com a mesma rapidez com a qual aparece, vai embora, sem que ninguém sabia como ou por quê. Hoje, no entanto, resolvi pesquisar e descobrir, afinal, o que era esse tal desafio do balde de gelo. E, por incrível que pareça, fiquei agradavelmente surpreso com o que vi.

Tudo começa com um mal terrível: a esclerose lateral amiotrófica, ou doença de Lou Gherig. A ELA (ou ALS, no acrônimo em inglês) é uma doença neurodegenativa que destrói progressivamente o primeiro neurônio motor superior no cérebro e o segundo neurônio motor inferior na medula espinhal.

Pode parecer pouco, mas a destruição gradual desses dois neurônios acarreta uma série de conseqüências nefastas para o paciente: fraqueza muscular, endurecimento dos músculos, cãibras, espasmos e perda da sensibilidade. Com o avanço da doença, o paciente vai ficando virtualmente impossibilitado de mover qualquer músculo, até mesmo os mais essenciais, como o diafragma, responsável pela respiração. No limite, a ELA acaba resultando na morte do paciente.

Se você não consegue ter uma idéia do estrago que a ELA produz numa pessoa, basta recordar seu mais famoso portador: Stephen Hawking. O genial físico britânico encontra-se amarrado a uma cadeira há mais de 40 anos, comunicando-se através de um sintetizador de voz que reconhece unicamente os movimentos dos seus olhos. É verdadeiramente terrível ver-se em semelhante situação.

Infelizmente, ainda não se conhecem os mecanismos que detonam o processo degenerativo que conduz à esclerose lateral amiotrófica. Como se trata de um mal raro, pouca gente recebe o triste diagnóstico da doença. Justamente por causa disso, a indústria farmacêutica e científica não se intere$$a nem um pouco em descobrir o que causa a ELA, muito menos como curá-la.

É aí que entra o balde de gelo. O pessoal da associação americana de esclerose lateral amiotrófica (www.als.org) teve a brilhante idéia de produzir um viral que atingisse dois objetivos: ajudar na divulgação da doença e convencer mais gente a se empenhar na sua erradicação. Nasceu, então, o Ice Bucket Challenge.

A referência ao balde de gelo decorre originalmente de uma triste metáfora. Receber o diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica é como receber o que no Brasil nós chamamos de “ducha de água gelada”. Daí a idéia: você desafia três amigos a tomar um banho de água com gelo dentro. Se aceitar, tudo certo. Se recusar, você tem que doar dinheiro para a ALS.

Como todo viral da Internet, o Ice Bucket Challenge logo se espalhou pelo mundo, arregimentando gente de todo tipo, de Gisele Bündchen a William Bonner, de George W. Bush até Roger Federer. Felizmente, a proposta original de só doar o dinheiro caso você não aceitasse o desafio foi abandonada, e a maioria dos participantes fez contribuições generosas para a campanha. Até agora, estima-se que mais de US$ 30 milhões foram arrecadados, em pouco mais de uma semana de campanha.

A um só tempo, o Ice Bucket Challenge prova o poder da comunicação dos novos tempos e a capacidade de as pessoas produzirem outras coisas que não somente besteiras que duram 30s de risos. Basta querer.

Abaixo, alguns vídeos de celebridades tomando banho de água gelada, beeeemmmm gelada:

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