O eterno fascínio dos diamantes

Vira e mexe aparece uma notícia nos portais da Internet acerca do maior-leilão-de-um-diamante-de-todos-os-tempos-da-última-semana”. Agora mesmo estão anunciado a venda sob lance de um diamante azul com mais de 100 quilates, pelo preço mínimo de US$ 35 milhões de dólares. E a pergunta que a maioria normalmente se faz é: por que gastar tanto dinheiro em um pedaço de pedra?

Claro, o fascínio dos diamantes – e, de resto, de todas as pedras preciosas em geral – vai muito além da constatação evidente de que, no fundo, está-se pagando por um pedaço de chão. Quando alguém resolve desembolsar algumas dezenas de milhões de dólares em um cristal de carbono, a última coisa que passa pela sua cabeça é que o dinheiro está sendo investido em algo que, do ponto de vista químico, não é muito diferente do grafite. Os diamantes valem tanto porque, por alguma razão misteriosa do destino, a pessoa que os adquire tem a sensação de que está comprando algo único.

Diamond

E isso não é inteiramente despropositado. Ao contrário da maioria das pedras preciosas, o diamante é a única composta por apenas um elemento químico: o carbono. Apesar de em nosso planeta o carbono ser um elemento químico relativamente comum, é difícil encontrá-lo sozinho, sem estar ligado a outros primos da tabela periódica. (Aliás, é graças principalmente a ele que eu estou escrevendo aqui desde lado da tela e você, do outro lado, está lendo este texto; o carbono é talvez o principal elemento da cadeia biológica).

A par de ser composto por apenas um elemento químico, o diamante reúne características que o tornam único dentre todas as pedras do planeta. A principal delas é a dureza. Os átomos de carbono estão ligados entre si pro ligações covalentes a quatro átomos de carbono vizinhos, formando nos vértices um tetraedro regular. Disso decorre que nada pode riscá-lo, salvo outro diamante.

Exatamente em função dessas características, mais de 80% dos diamantes extraídos do solo tem destinação industrial, em máquinas e utensílios variados (a lâmina do bisturi, por exemplo). Apenas1/5 é destinado às joalherias do mundo. Mas são esses 20% que compõem a fama de todo o resto.

Ao contrário do que reza o filme de James Bond, os diamantes não são eternos. Eles apenas se decompõem de maneira mais lenta do que a maior parte dos materiais. Mesmo assim, eles superam em larga escala qualquer ser vivente da Terra.

Um diamante natural tem seu valor dimensionado a partir da análise de quatro características básicas, a saber: cor, transparência, lapidação e peso. Ou, como ficou popular no jargão joalheiro, avalia-se o preço de uma pedra de acordo com os Four Cs: color, clarity, cut and carat.

Em geral, quanto mais claro o diamante, maior o seu preço. Diamantes amarelos, rosas, azuis e negros normalmente valem menos. A transparência, por óbvio, denota a “pureza” da pedra. Quanto menos imperfeições, mais valioso. A lapidação diz respeito à forma com a qual a pedra é cortada. Dá-se preferência aos cortes que expõem de maneira mais viva a luz que o perpassa. E, por fim, afere-se o custo de um diamante pela quantidade de quilates (peso) que ele detém.

Ninguém sabe ao certo quando a humanidade se deixou arrebatar pelos diamantes. Sabe-se apenas que na República Veneziana  dos séculos XIV e XV eles se tornaram muito populares. Daí para espalhar sua busca por todo o globo foi apenas um pulo. Das Minas Gerais do século XVII às minas sul-africanas do século XIX, todo mundo passou a procurar essas pedras de beleza indiscutível.

No entanto, como tudo na vida capitalista, também a busca incessante pela riqueza associada aos diamantes acabou trazendo problemas. A descoberta de minas em regiões de conflito tornou-se uma das principais fontes de financiamento para guerras tribais, especialmente na África. Quem assistiu ao filme Diamante de Sangue, com Leonardo Di Caprio, deve ter uma idéia do que isso representa.

Para impedir a matança indiscriminada, a comunidade internacional deflagrou uma campanha conhecida como “Processo de Kimberley”. Ela visa a certificar a origem de cada um dos diamantes, de maneira a que as pedras extraídas em lugares de conflito não possam ser comercializadas ilegalmente. Por isso, se você for comprar um diamante, certifique-se antes que a pedra foi retirada de uma mina legalizada. Do contrário, de maneira indireta, você pode estar fomentando uma guerra civil em algum lugar.

Seja como for, o fato é que dificilmente os diamantes perderão seu lugar de destaque entre os objetos universais de desejo. Em um mundo cada vez mais pasteurizado, com tanta gente querendo ficar igual a tanta gente, a vontade de ser diferente acaba transformando esse ajuntamento tetraédrico de carbono em um sinal de distinção entre os mortais.

Porque os diamantes podem não ser eternos. Mas o fascínio que eles despertam na gente é.

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