Seguindo na fila da pauta represada pela minha ausência, hoje vamos abordar assuntos econômicos
Boa parte deve ter ignorado a notícia, mas, no primeiro trimestre deste ano, a economia brasileira cresceu modestíssimos 0,2%, em comparação com o mesmo período do ano passado. Desde o espetacular crescimento de 7,5% em 2010, o PIB brasileiro parece ter entrado em marcha lenta e, a continuar nesse ritmo, daqui a pouco arrisca-se a engatar uma marcha à ré. A pergunta que todo mundo se faz nessas horas: qual é o problema da economia brasileira?
Como tudo na vida, reducionismos são arriscados, porque mesmo os pequenos acontecimentos não conhecem apenas uma causa da existência. Ou, por outras palavras, a vida é demasiadamente complexa para apontarmos a apenas uma coisa a explicação para todos os problemas. Mas, dentre todos os fatores que movem a economia brasileira para trás, arrisco-me a dizer que nenhum é mais relevante do que a questão da produtividade.
Muita gente criou aversão ao tema desde que ele se tornou panacéia na boca dos “çábios” do mercado. Aliado aos indefectíveis “fazer as reformas” e “incrementar a inserção externa”, o aumento da produtividade acabou virando uma frase de efeito em um discurso monotemático, cujo objetivo implícito era um só: “Queremos que o Governo aumente os juros para ganharmos mais dinheiro sem correr nenhum risco”. Nesse caso, todavia, o buraco é mais embaixo.
“Produtividade”, em economês, significa a relação entre a produção e os fatores de produção utilizados. En cristiano, “produtividade” significa saber a quantidade de bens, pessoal e maquinário utilizado para fabricar uma quantidade determinada de produtos. Quanto menos gente e coisas você precisa para fabricar uma mesma quantidade de produtos, maior será a produtividade. Na mão contrária, quanto mais gente e matéria-prima você utilizar para produzir a mesma quantidade de produtos, menor será a produtividade.
A essa altura, você, nobre leitor, já deve ter intuído que a produtividade está diretamente associada a dois fatores: primeiro, a capacitação do trabalhador; segundo, o investimento em tecnologia. Obviamente, um trabalhador mais bem treinado consegue fazer o mesmo trabalho em menos tempo do que um que não foi treinado. Logo, a produtividade dele é maior. Da mesma forma, quando uma máquina que produz dez carros por hora é substituída por uma mais moderna, que produz vinte automóveis no mesmo período, a produtividade da fábrica aumenta.
Até aí, tudo bem; todo mundo consegue mais ou menos entender o esquema. Mas de que maneira a produtividade se relaciona com o conjunto da economia, a ponto de influenciar no seu desempenho global?
Imagine, por exemplo, um marceneiro que produz duas mesas de mogno por dia. Aplicando-se o custo da madeira, os gastos com maquinaria e eletricidade e o próprio salário do marceneiro, o dono da fábrica de móveis estima o preço unitário de cada mesa em R$ 10.000,00, já incluído o seu lucro.
Imagine, agora, no entanto, um trabalhador que fez um curso de especialização em marcenaria. Com sua capacitação, ele consegue produzir seis mesas de mogno por dia. Como os gastos com maquinaria, eletricidade e o próprio salário do marceneiro são, em princípio, os mesmos nos dois exemplos, o custo unitário de cada mesa sai por, digamos, R$ 8.000,00. É dizer: sem aumentar em nada os gastos com os fatores de produção, o sujeito conseguiu rebaixar em 20% o custo total do produto vendido.
E daí?
Daí que, se a produtividade do trabalhador aumenta, a tendência é de que os preços se mantenham estáveis ou até caiam. Logo, diminui o risco de aumento e, por conseguinte, diminui a necessidade de aumentar os juros para combater a inflação. De outra banda, o trabalhador que produz mais tende a receber mais pelo trabalho produzido, o que implica aumento de seu nível de renda. Com mais dinheiro no bolso, o trabalhador pode consumir mais e, assim, mover mais rápido a roda da economia.
Quando a produtividade é baixa ou diminui, acontece o efeito inverso. Os preços tendem a aumentar e, para combater esse aumento, via de regra recorre-se aos juros. Pra piorar, o trabalhador fica sem espaço para pedir e o empregador, sem margem para conceder aumentos reais de renda. Resultado: todos perdem.
O que aconteceu no Brasil nos últimos anos foi uma conjunção de fatores que acabou por elevar maciçamente o nível de emprego e um aumento substancial no nível de renda. No entanto, a essas duas ocorrências benfazejas não correspondeu o necessário aumento de produtividade. Eis a razão pela qual a inflação tem se mantido no topo da meta do Banco Central nos últimos quatro anos e, justamente por isso, os juros voltaram ao nível em que se encontravam em 2010.
Ou o Brasil resolve a questão da produtividade, melhorando a educação do trabalhador e incentivando o investimento maciço em tecnologia, ou ficaremos para sempre girando como rosca espanada, condenados eternamente a vôos de galinha.