O piloto mais importante do automobilismo nacional

Eu sei, eu sei. No próximo dia 1º de maio terão se passado 20 anos desde que a direção da Williams nº2 quebrou na curva e levou Ayrton Senna a se chocar contra o muro da Tamburello. O fato de ser um piloto de inquestionável talento morrer de forma tão trágica em frente às câmeras alçou um ídolo carismático à condição de mito. Daí para dizer que ele foi o piloto mais importante do automobilismo nacional é apenas um pulo. Mas, nesse caso, arrisco-me a dizer que é um pulo na direção errada.

Que Senna foi um às do volante, fantástico a cada volta que dava no carro, ninguém discute. Mas, antes de poder guiar um carro de Fórmula 1, Senna teve de prestar tributo a outro brasileiro, que veio antes dele. E não, não estou falando de Nelson Piquet. Falo de Emerson Fittipaldi.

Emerson Fittipaldi

Os mais apressados dirão que se cuida de saudosismo barato deste que vos escreve. Mas, olhando-se a história em retrospecto, será difícil encontrar alguém tão importante para o automobilismo nacional como Emerson Fittipaldi.

Paulista da capital, Fittipaldi cresceu respirando velocidade. Desde cedo, apaixonou-se pelo kart. De Interlagos, assistia e participava das competições automobilísticas e aprendia, como um aluno curioso, as manhas desse esporte tão complexo.

No entanto, não demorou muito para que Emerson concluísse que seu talento não cabia mais em São Paulo. Tentou correr em circuitos pela América Latina, especialmente na Argentina, mas o lado sul do Equador não se apresentava como um cenário promissor para um jovem piloto. Com a cara e a coragem, juntou as malas e foi para a Europa.

De início, Fittipaldi começou na Fórmula Ford. Com sucessivas vitórias, seu talento logo chamou a atenção dos donos das equipes da Fórmula 3 inglesa, desde sempre uma espécie de “pré-Fórmula 1”. Daí pra frente, não houve quem o detivesse. Com apenas 22 anos, Emerson Fittipaldi se sagraria campeão da F-3.

Com o currículo bem fornido pelas conquistas nas categorias de base, Fittipaldi conseguiu o tão cobiçado à Fórmula 1, a mais rica, a mais charmosa e a mais competitiva categoria do automobilismo mundial. Impressionado com a capacidade daquele piloto, Colin Chapman, presidente da Lotus, resolveu contratá-lo.

Só que Fittipaldi não se contentaria somente com um lugar no grid de largada. Dois anos depois de chegar à Fórmula 1, Emerson Fittipaldi bateria Jackie Stewart e conquistaria o primeiro título mundial como piloto. Pela primeira vez na história, um piloto brasileiro poderia abrir a boca para dizer que era campeão do mundo. Mais que isso. Fittipaldi era o mais jovem campeão de F1 de todos os tempos, recorde que só viria a ser quebrado 33 anos depois, quando Fernando Alonso foi campeão em 2005.

Mas isso não era o bastante para Fittipaldi. Dois anos depois, ele se mudou da Lotus para a McLaren. Pela escuderia inglesa, Fittipaldi ganharia seu segundo campeonato. Não sem antes passar por uma renhida disputa com o italiano Clay Regazzoni, que só acabou na última corrida.

Agora, imagine você na situação de Fittipaldi: jovem, novo, rico, bicampeão do mundo e cobiçado por todas as grandes equipes. O que você faria?

Bem, isso eu não sei, mas certamente você não pensou algo parecido com o que fez Emerson Fittipaldi. Contra todos os prognósticos, Fittipaldi decidiu dar um pé na bunda de todas as grandes da F1 e fundar, junto com seu irmão, a Copersucar, a primeira – e até o momento, única – equipe brasileira da história da Fórmula 1.

Para se ter uma idéia do que isso representou na época, basta fazer um paralelo com o presente. Imagine Fernando Alonso ganhando o seu segundo campeonato mundial e, ao invés de fechar com a Ferrari, criasse uma Spanian. Tal é a dimensão da renúncia que Fittipaldi fez na época.

Infelizmente, a opção não foi bem sucedida. Os resultados foram escassos e, sem patrocinadores, o próprio Emerson resolveu abandonar as pistas e seguir como chefe de equipe, em 1980. Fittipaldi ainda insistiu por dois anos, colocando dinheiro do próprio bolso na equipe. Entretanto, rendido às evidências, retiraria seu projeto do primeiro time brasileiro de Fórmula 1 definitivamente em 1982.

Depois de experimentar tanto sucesso, qualquer sujeito poderia se dar por satisfeito. Mas não Fittipaldi. Talvez por conta da experiência amarga da Copersucar, Fittipaldi ficou com um gostinho de “quero mais”. Convencido por alguns amigos, resolveu tentar a sorte na Fórmula Indy. Pela primeira vez na história, a categoria mais importante do automobilismo norte-americano teria um brasileiro entre seus pilotos.

E, mesmo com seus 40 anos, Emerson Fittipaldi não fez feio. Depois de correr por cinco temporadas, ganharia seu primeiro título na categoria, em 1989. Como se isso fosse pouco, Fittipaldi ainda se tornaria o primeiro brasileiro a vencer as lendárias 500 milhas de Indianápolis, corrida só comparável em relevância ao GP de Mônaco.

Fittipaldi ainda ganharia novamente as 500 milhas de Indianápolis em 1993. No entanto, um acidente em 1996 e sua idade – com quase 50 anos – levaram-no a decidir pela aposentadoria.

Sem problema. Metade da lista de feitos alcançada por Fittipaldi já justificaria uma carreira inteira, que dirá a lista toda. Para quem acha que a vida passa rápido, Fittipaldi é a prova viva de que ela corre, mas, mesmo assim, há tempo suficiente para fazer grandes coisas.

Um viva a Emerson Fittipaldi.

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