Os buracos negros

Black hole

O mundo científico foi sacudido nesta semana por um artigo do maior físico da atualidade, o britânico Stephen Hawking. No texto, Hawking sugere que os buracos negros – um dos maiores mistérios da Ciência – simplesmente não existem. Para entender do que se trata, voltemos um pouco no tempo.

De acordo com a Teoria da Relatividade, a gravidade não é exatamente uma força – pelo menos, não do modo que a maioria imagina -, mas uma deformação no tecido do espaço-tempo resultante do peso dos corpos celestiais. Em certos lugares, o peso dos corpos é tão intenso que faz com que o tecido do espaço-tempo “afunde”, sugando tudo ao seu redor.

Para entender como isso funciona, basta imaginar duas pessoas segurando pelas pontas um lençol de cama. Esticada, a superfície do lençol fica “reta” como uma planície. No entanto, se alguém aparece e coloca um peso, como uma bola de gude, no meio do lençol, ele tende a “afundar” a superfície lisa e deformá-la. A essa deformação no tecido do espaço-tempo dá-se o nome de “gravidade”.

Se o peso do corpo celeste for, digamos, “normal” e bem distribuído no espaço, haverá apenas uma pequena deformação no espaço-tempo. Ele desviará, por exemplo, a luz que passar por ele. Mas não causará maiores estragos. No entanto, se massa for muito grande e se condensar em um ponto cada vez menor – como acontece quando estrelas super-maciças morrem – aí a deformação será tão grande que sugará tudo que esteja ao seu redor. Surge, pois, o buraco negro.

Black hole

Do ponto de vista científico, os buracos negros são como os esquimós. Ninguém nunca viu um, mas todo mundo sabe que eles estão lá. Como bem a luz pode escapar de sua fantástica atração gravitacional, os buracos negros não podem ser observados diretamente. Para tentar identificá-los, os cientistas tentam observar o que está ao seu redor. Alguns movimentos dos corpos celestes, de tão característicos, “denunciam” a presença de um buraco negro na vizinhança. E é assim que os físicos conseguem “descobrir” onde eles estão.

Até aí, tudo bem. Tem-se- ou tinha-se – como algo relativamente pacífico que os buracos negros existem e como eles se formavam. Daí pra frente, no entanto, tudo é um mistério.

Especula-se, por exemplo, sobre o que acontece com matéria depois que ela cai no buraco negro. Imaginava-se, por exemplo, que ela se perdia para sempre dentro do imenso campo gravitacional por ele exercido. No entanto, Hawking conseguiu demonstrar que os buracos negros emitem um tipo estranho de radiação, à qual deram, com justiça, o nome do físico britânico: radiação Hawking.Essa constatação quebrou o conceito até então aceito de que o buraco negro era um sorvedouro onipotente de tudo.

Mesmo assim, sustentava-se de pé a idéia de que, no centro de um buraco negro, havia o que os cientistas chama de “singularidade”, ou seja, um lugar em que o tempo e o espaço deixam de existir e todas as leis da física tornam-se inaplicáveis. Havia mesmo quem defendesse que, dessas singularidades existentes nos buracos negros, poderiam surgir universos como o nosso, numa variante da Teoria do Multiverso. Sob essa ótica, o Big Bang – a explosão inicial de matéria que deu origem a tudo – nada mais seria do que o “coração” de um buraco negro que explodiu, ou, de uma maneira mais simples, nosso Universo não passaria de um “buraco negro ao contrário”.

O grande problema do buraco negro é o paradoxo a que ele conduz. Em Física, ninguém trabalha com a idéia de “perda” de alguma coisa. Daí os postulados da conservação da massa/energia, segundo os quais a quantidade de massa/energia em determinado sistema será sempre constante. Ou, mais sinteticamente, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Portanto, se matéria cai dentro do buraco negro, ela tem que ir para algum lugar. Desaparecer, pelo menos por enquanto, não está entre as hipóteses cientificamente aceitáveis.

O que o artigo de Hawking propõe revolucionar é justamente esse conceito. Para ele, a fronteira que separa a matéria do ponto de não-retorno da atração gravitacional do buraco negro – à qual os cientistas deram o nome de “Horizonte de Eventos” – é, na verdade, uma muralha de fogo que impede as partículas de atravessarem essa fronteira e se precipitarem dentro do buraco negro. Em razão disso, os buracos negros – entendidos como um lugar onde a luz pode escapar para a infinitude – simplesmente não existem.

Se Hawking está certo ou não, só o tempo dirá. A única certeza é de que, caso ele tenha razão, tudo o que já se escreveu sobre o Universo terá que ser jogado fora. E novas teorias terão de ser escritas para explicar o seu funcionamento.

O Universo, como se vê, continua sendo um grande mistério.

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