O elogio da irresignação, ou A arte de não perder a esperança

Final de ano sempre é um período que convida à depressão. Depressão talvez seja forte demais, mas um certo ar de tristeza incita todo mundo à melancolia. Salvo as crianças, normalmente em polvorosa com os presentes a receber do Papai Noel, a maioria dos adultos é assaltada por uma espécie de desalento típico de quem acha que tudo está perdido.

Não é pra menos. Principalmente para quem vive no Brasil, todo final de ano traz consigo a constatação de que o tempo passa e um monte de coisa errada continua do mesmo jeito. Desde os problemas da sociedade, passando pelos problemas da política e desaguando até mesmo nos resultados desportivos, uma quantidade infinita de mazelas insiste em assombrar o cotidiano do cidadão comum. De repente, se abate sobre um sujeito uma conclusão quase inevitável: não adianta eu fazer nada, porque tudo continuará do mesmo jeito.

De fato, em um país no qual não se pode confiar sequer nos resultados obtidos dentro de campo, é difícil evitar o fatalismo natalino. Mas isso, por si só, não deve se constituir em escusa para o sujeito se demitir de sua missão no mundo.

Para quem acredita em Deus, por trás de tudo há uma razão que só a Providência pode explicar. Como o sujeito não consegue alcançar as razões divinas, há de acreditar que, seja o que for que tenha acontecido, aconteceu para o melhor. Afinal, a própria idéia de Deus implica a existência de um ser sobrenatural a governar os acontecimentos, sempre com o propósito de tornar a Terra um mundo melhor para se viver.

Para quem não acredita em Deus, o raciocínio é até mais fácil. Se estamos sozinhos no mundo, compete a nós – e somente a nós – fazer com que o planeta se torne um ambiente melhor. Nossas ações tornam-se ainda mais importantes, porque tudo o que fizermos trará implicações não somente para as nossas vidas, mas, por conta do Efeito Borboleta, afetarão toda a humanidade.

De uma forma ou de outra, é um acinte tomar-se de tristeza e acreditar que as coisas que você faz são desimportantes para o mundo. Pelo contrário. Toda e qualquer ação, por mínima que seja, tomada na direção de um mundo melhor, será relevante para o avanço da civilização. E isso vale tanto para quem acha que atua sob inspiração divina como para quem acha que está aqui por obra do acaso.

Por isso mesmo, por mais que a constatação de que o Brasil é um país injusto seja uma conclusão inevitável, o sujeito não pode perder de vista a noção de que pode torná-lo um lugar melhor. Pode parecer pouco, mas se uma pessoa mudar, pode fazer com que outra pessoa mude também. E se essas duas pessoas mudaram, podem convencer mais duas a mudarem. Daqui a pouco, o mundo mudou e você nem percebeu enquanto ele mudava.

Por tudo isso, a virada do calendário não deve ser encarada com a tristeza de quem não conseguiu mudar muita coisa no ano que passou, mas com a convicção de que, no ano que vem, tudo pode mudar. Basta você querer.

Porque desistir do Brasil é como desistir de si mesmo. E quem desiste de si mesmo não merece estar vivo.

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1 Response to O elogio da irresignação, ou A arte de não perder a esperança

  1. Avatar de rodriguesjr rodriguesjr disse:

    cara, só queria deixa esse link: http://www.youtube.com/watch?v=5q5ARceWgJY como não achei um espaço especifico só para enviar links interessantes… vai ficando em um tópico ou outro. 🙂

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