Os riscos de uma geração mimada

Hoje estava eu a fuçar a Internet e me deparei com um artigo no Blog do Nassif. Nele, debate-se o problema do mau comportamento das crianças na Suécia. Depois de proibirem as palmadas em 1979, os suecos agora estão experimentando os problemas de toda uma geração criada à margem da punição parental. E o que eles estão vivenciando não é nada de bom.

Desde casos menores, como crianças que se recusam a sentar na mesa, até casos mais graves, como crianças de quatro anos cuspindo em professores, os pais de hoje em dia estão em pânico com constatação de que seus filhos estão se tornando seres incontroláveis. Livros estão sendo escritos, palestras estão sendo feitas e encontros estão sendo promovidos para discutir a questão. Até agora, a conclusão é uma só: a proibição do castigo físico criou uma geração de mimados.

Neste espaço, o assunto já foi abordado certa vez. Em um post que tratava especificamente sobre a questão do bullying, dizia eu que esse fenômeno estava passando por uma espécie de overrating. Tudo agora era bullying. De crianças com depressão a massacres em educandários infantis, tudo era justificado a partir da “pressão psicológica” a que a criança era submetida por seus “cruéis” colegas de escola. Deixava-se, no entanto, de analisar uma questão mais profunda: pra que tipo de mundo nós estamos formando nossas crianças?

É aí que a palmada entra. Em um mundo ideal, pode-se admitir a idéia de seres humanos inteiramente livres, convivendo em harmonia, sem se matarem uns aos outros. Todavia, nosso estágio evolucional ainda recomenda a imposição de regras. Do contrário, o ser humano, mergulhado em um ambiente de total liberdade, tende a exercer seus instintos malvados mais primitivos.

Na verdade, os pais e a tal da “palmada” exercem para a criança uma função simples, mas muito relevante: demonstrar a necessidade de obediência às regras. Com o castigo físico, as crianças aprendem duas noções básicas. Primeiro, o respeito à autoridade dos pais. Segundo, que o descumprimento das regras pode levar a punições.

No mundo dos adultos, o respeito às regras dá-se por imposição estatal. Se necessário, recorre-se até à privação de liberdade (prisão) para fazer com que o sujeito ande na linha. No mundo das crianças, o respeito às regras dá-se por educação dos pais. A “frustração” com a impossibilidade de reagir ao castigo dos pais, pois eles são mais fortes do que a criança, é a forma mais clara e direta de demonstrar à criança que ela não pode fazer tudo o que quer.

Se essas regras básicas de convivência não forem ensinadas, ainda que “na marra”, antes da fase adulta, não adianta; o jogo estará perdido. Nenhuma criança criada à margem de regras sociais se tornará um adulto integrado à sociedade.

Por isso mesmo, é um erro tratar os castigos físicos a crianças como um mal a ser extirpado do convívio social. Não se trata aqui de defender palmatória, chicote ou algum outro tipo de tortura corporal. Claro que deve haver limites à punição. E para isso existem os juizados da infância e do adolescente. Mas isso não autoriza a conclusão de que as palmadinhas básicas do dia-a-dia devem ser proibidas. No fundo, são um elemento importante na preparação do ser humano para o mundo que o espera.

Se os pais forem proibidos, aqui no Brasil, de exercerem o mesmo direito que foi sonegado aos pais suecos, o resultado será o mesmo: um desastre.

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3 respostas para Os riscos de uma geração mimada

  1. Mourão disse:

    Com a máxima convicção: pela natureza do brasileiro tendente à indisciplina em virtude de nossos exemplos históricos, a tal lei da palmada, ao retirar, de fato, a autoridade dos pais,de punir ( não de espancar, pois os que assim o fazem são tarados criminosos e, independentemente, da letra da lei vão continuar delinquindo) vai incentivar a criação de seres intoleráveis, intolerantes e desrespeitosos, bem ao gosto dos nosso teóricos utópicos , demagogos ou profundamente revoltados com a sociedade, simplesmente por serem uns eternos ressentidos

  2. Fato! A consequência de nossos dias em todas as áreas da sociedade está sendo proveniente da falta de controle dos filhos. Hoje as autoridades, incluindo professores e toda a classe que exerce liderança, não possuem mais o respeito dos liderados, e se reclamarem, apanham.
    Certamente as coisas irão de mal a pior, não teremos mais uma melhora, um progresso, pois depois que se curva, se torna muito mais difícil se reerguer, cabe a nós, que sabemos de tal verdade, exercer acima da lei, a autoridade que nos foi dada como pais.
    Belo texto.

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