O ocaso de Eike Batista

Depois de dez dias experimentando severas restrições de acesso à Internet, o retorno ao batente aqui no Blog impõe a análise de alguns assuntos que ficaram pendentes nesse período. E, no topo da lista, está ele, o mago das finanças, empreendedor imbatível e empresário admirado: Eike Batista.

Como todo mundo está careca de saber, Eike Batista vive aqueles que provavelmente serão os últimos dias de seu império. Depois de uma ascensão meteórica, quando saiu da condição de “ex-marido da Luma de Oliveira” para candidato a “homem mais rico do mundo em 2015”, Eike vive o reverso da fortuna numa proporção jamais vista na história financeira mundial. Ninguém, nem muito menos ele, poderia imaginar que a montanha de dinheiro sobre a qual estava sentado – em torno de US$ 33 bilhões – poderia se tornar pó. Ainda que houvesse algum vidente a imaginar a cena de um Eike Batista recitando o papel de um decadente e endividado empresário à busca de salvação de seus negócios, é certo que nem Nostradamus poderia adivinhar que o vento levaria tamanha quantidade de grana em apenas um ano e meio.

Olhando-se em retrospecto, é difícil acreditar que desde o IPO da OGX e o provável pedido de recuperação judicial a ser proposto hoje tenham se passado apenas seis anos. Em meia década, Eike saiu da condição de quase subcelebridade para empresário mais rico do Brasil, para depois se tornar um case de derrocada dos negócios.

O que aconteceu com Eike Batista? Como foi possível transformar o então “Midas brasileiro” em um “cão danado” dos mercados em tão pouco tempo?

Vivo, Newton diria que a culpa é da gravidade. Sim, tudo que sobe tem de descer um dia. Todos os negócios, uma vez instalados, passam por momentos de dificuldades depois de alguns anos de atividade. Mas só a gravidade não explica tamanha variação de fortuna. Afinal, quem investiu na Petrobras a R$ 84,00 em 2008 hoje tem nas mãos um papel que vale somente R$ 20,00. No entanto, a Petrobras continua onde sempre esteve: na condição de maior empresa nacional, uma das maiores do mundo.

A diferença radical entre os empreendimentos de Eike Batista e os outros foi que boa parte de seu sucesso se baseava nas nuvens. Toda estrutura desenvolvida pelo empresário baseava-se na certeza de que sua OGX seria uma grande petrolífera em pouco mais de uma década. Segundo suas projeções, ela estaria a produzir 1 milhão de barris por dia em 2016 e passaria a Petrobras em produção já em 2020. Ou seja: faria em dez anos o que a Petrobras levou mais de 60 para alcançar.

Faltou, no entanto, combinar com os russos. Os poços de petróleo pelos quais jorrariam milhões de barris revelaram-se uma decepção. Nenhum conseguiu ultrapassar a marca de 5 mil barris por dia. Pior. Os únicos poços operacionais da companhia encerrariam sua produção já no começo do ano que vem, por inviabilidade técnica de exploração.

A partir daí, o que se assistiu foi somente a queda de um castelo de cartas montado sobre o ar. Com a OGX sem petróleo, não havia interesse em comprar as plataformas construídas pela OSX. Com a OSX sem dinheiro pela venda de suas plataformas, não havia necessidade de utilização da imensa rede logística a ser montada pela LLX. E sem a utilização de toda essa estrutura, não havia para quem vender a energia produzida pela MPX. Tudo ruiu a partir da quebra do único pilar sobre o qual se assentava seu império.

Independentemente do que aconteça a partir de agora, o fato é que a a aura mágica a envolver Eike Batista já se desfez. Se há seis anos ele conseguiu convencer investidores, poupadores e fundos de pensão a enterrar bilhões de dólares comprando uma idéia que não passava de um sonho, hoje ele não consegue sequer mais prazo para esticar as dívidas a vencer no final do mês. Trincado, o cristal de queridinho do mercado financeiro jamais voltará a brilhar como antes, ainda que consiga sair com alguns milhões no bolso depois de todo esse infortúnio.

Há pouco mais de seis meses, dizia eu que, quem fosse investidor, não deveria apostar na derrocada de Eike Batista, pois ele ainda deveria ter “muitas cartas na manga”. Contrariando o que este que vos escreve previra, Eike revelou-se um mágico de araque. De sua manga, ao invés de cartas, saem avisos de cobrança. De “futuro homem mais rico do mundo”, Eike passará à história como sinônimo de uma das maiores bolhas que o mercado financeiro já produziu.

Triste fim do Novo Midas brasileiro…

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2 Responses to O ocaso de Eike Batista

  1. Avatar de Mourão Mourão disse:

    Retornou com muita inspiração. Devem ser os ventos de outros mundos e a alegria pelo êxito da “cúmplice”.
    Mas quanto ao EIke, eu reluto em acreditar na catástrofe( para ele).

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