Outro dia estava assistindo a uma reportagem, salvo engano no Jornal Nacional, acerca das dificuldades de certas pessoas em conseguir um emprego. Desde estagiários até pesquisadores, passando por engenheiros e mestres da computação, muita gente boa acaba perdendo a colocação por causa de erros de português no seu currículo. A situação é tão dramática que já há faculdades incluindo cursos de português nos seus primeiros semestres para que seus alunos não passem aperto mais adiante.
Além do problema da didática – leia-se: maus professores de português – e da falta de hábito de leitura, a disseminação do desconhecimento do uso correto da norma culta tem como principal responsável a imprensa. Hoje em dia, é cada vez mais comum encontrar textos jornalísticos repletos de erros crassos. Na #pressce, por exemplo, um de seus principais articulistas escreve coisas como “meche”. Daí vocês podem tirar o nível do restante.
Hoje, por exemplo, na Coluna Vertical do jornal O Povo, lia-se a seguinte notícia:
“Danilo Forte (PMDB) ocupará hoje o grande expediente da Câmara dos Deputados. Vai criticar o fenômeno chamado “Supremocracia”, onde o STF vem interferindo em todas as decisões tomadas pelo Congresso”.
Onde está o erro da frase?
O erro está justamente no emprego incorreto do “onde”.
Desde sempre, “onde” é um advérbio utilizado para fazer referência a lugar. “Onde você mora?”, “Onde você deixou a carteira?”, “Este é o apartamento onde moro”, e por aí vai.
No entanto, sabe-se lá por quê, o “onde” ficou polivalente. Começou a ser empregado das mais diversas formas, nas mais variadas situações. E, em quase todas elas, de forma errada. Vê-se, por exemplo, frases como “A bebida pode se tornar um problema onde a pessoa perde a capacidade de discernimento”, ou ainda “Nós vamos fazer um passeio onde poderemos tomar uns drinques e comer uns aperitivos”. Tanto em um caso como no outro, o emprego do “onde” é equivocado. Nem “bebida” nem “passeio” são termos indicativos de lugar, o que tornaria possível a utilização do onde.
Muito provavelmente, o erro na utilização do “onde” deriva da noção equivocada de que ele sempre pode ser substituto das expressões “em que”, “no qual” e “na qual” (e seus plurais). Isso porque o próprio “onde” pode ser substituído sem problemas por essas expressões. Na frase “Este é o apartamento onde moro”, pode-se perfeitamente substitui-lo por “em que”, de modo a ficar “Este é o apartamento em que (ou no qual) moro”. Entretanto, a recíproca não é verdadeira. Por exemplo, na sentença “Este é o navio no qual eu farei meu cruzeiro pelas Bahamas”, não se pode substituir “no qual” por “onde”, ficando “Este é o navio onde eu farei meu cruzeiro pelas Bahamas”. Novamente, o “onde” aí está mal empregado, fazendo com que um ouvinte mais atento sinta uma certa dor nos ouvidos ao escutá-la.
Por isso, para não cair nesse erro tão comum, fuja do “onde”, preferindo a utilização dos tradicionais “em que”, “no qual” e “na qual”. Reservo-o unicamente para situações nas quais se pretende fazer referência a lugar. Seu português ficará mais polido e, quem sabe, sua colocação no mercado de trabalho ficará mais fácil.
Aonde foi parar. o…….bem escrito? ou Ondefoi parar o ….bem escrito?
A questão é controversa, Comandante. Eu mesmo fiquei em dúvida quando escrevi o post. Em princípio, a conjugação do verbo ir indica movimento, o que indicaria a utilização do “aonde”. No entanto, o infinitivo “parar” pode dar uma idéia de lugar estável, sem movimento, o que conduziria à utilização do “onde”. Na dúvida, creio que as duas formas sejam corretas. Um abraço.