Quem não é do Nordeste provalmente não tem idéia do que o povo pernambucano representa na região. Só quem é daqui pode entender a real dimensão desse curioso espécime da fauna brasileira no contexto nordestino. Admirado por uns, invejado por outros e odiado por todos, o pernambucano é um ser irascível e naturalmente irritadiço.
Informado por natureza, o pernambucano nasceu para reclamar. Sua fala direta às vezes choca quem não está acostumado a tanta sinceridade. Não é raro um forasteiro se abismar com aquilo que parece uma discussão acalorada entre dois pernambucanos, quando, na verdade, eles estão apenas argumentando com seu jeito próprio de ser.
Três historinhas – todas reais – vos permitirão compreender um pouco mais da alma pernambucana.
1 – A fila pernambucana
Em um determinado estabelecimento comercial, vendem-se espetinhos, daqueles que a gente come com farofa, à moda neanderthal. Há duas opções: bovino e suíno. Enquanto batem um papo, o casal não vê o tempo passar. Depois de uns 3 minutos de conversa, os forasteiros percebem que a fila não andou. À sua frente, duas mulheres e uma dúvida existencial: “Será que eu escolho bovino? Ou será que escolho suíno?”
Atrás deles na fila, um pernambucano começa a se impacientar. Como prosseguisse a discussão interminável entre bovino e suíno, trinta segundos depois o membro local da comunidade irrompe em um brado: “Oh, minha senhora, num dá pra escolher logo nesse negócio, não?!? Não tenho o dia todo pra ficar aqui esperando, não!!!”
As mulheres escolhem o bovino, saem da fila e prosseguem como se nada tivesse acontecido.
2 – O camareiro do hotel:
O casal viaja ao Recife. Na reserva, um hotel na orla de Boa Viagem. Check in feito, o recepcionista chama o camareiro para levar as malas ao quarto. No caminho até a suíte, uma conversa amigável, sobre amenidades. Ao chegar ao quarto, o camareiro prontamente começa a explicar o funcionamento dos aparelhos, desde o controle remoto da TV até o ar condicionado, passando pelo secador de cabelos no banheiro.
Depois da palestra sobre os acessórios da suíte, um pedido:
“Qualquer coisa, vocês podem reclamar. Na verdade, a gente quer que vocês reclamem. Por que, se nãor reclamarem, como é que a gente pode melhorar?”
3 – Cobra engolindo cobra:
A turista visita Olinda. Calor da tarde, 35º à sombra, a mulher vai em busca de refresco. Ao redor, uma barraquinha que vende água de coco. No batente, um monte de cocos secos empilhados. A turista se aproxima, aponta para os cocos no batente e pede:
“Por favor, um coco”.
E o vendedor:
“Você quer com água ou sem água?”
A turista, meio contrafeita, responde:
“Com água, senhor”.
Ao que o vendedor replica:
“É porque você apontou pro coco seco. O seco você pode levar de graça!”
Após alguns instantes, chegou um garoto, menino, coisa de uns 12 anos. A turista colocava o canudo no coco recém-aberto, quando o menino alcançou o batente com um saco cheio de moedas. Ao fazer menção para se retirar com seu coco, a turista ainda conseguiu ouvir parte do diálogo entre o velho vendedor e o menino:
“O que é isso, rapaz?”
Ao que o garoto respondeu:
“É um saco de moeda”.
Rindo, a turista saiu bebendo sua água de coco. Ao retornar à barraquinha, o velho vendedor, sem deixar a peteca cair, disparou:
“Cê tá vendo? Aqui é cobra engolindo cobra!”