Uma das coisas que deve estar mexendo com o imaginário de quem acompanha o noticiário é a situação financeira da Petrobras. De uma hora pra outra, aquela que já foi a maior companhia das Américas, uma das maiores petrolíferas do mundo, tornou-se um cão leproso para os mercados, derrubando o preço de suas ações a menos de 1/5 de sua máxima histórica. A coisa já atingiu tal ponto que até mesmo rivais de porte infinitamente menor, como a Ecopetrol colombiana, já a ultrapassaram em valor de mercado.
Há pouco mais de quatro anos, em contraste com o cenário atual, desenhava-se um horizonte de céu de brigadeira. O pré-sal acabara de ser descoberto. Aberta uma nova e imensa fronteira exploratória, o Governo Lula resolveu mudar o sistema de concessão, para a partilha do produto da exploração. Com isso, a Petrobras passaria a ser a operadora exclusiva dos poços de petróleo. Em suma: a Petrobras estava com a faca e o queijo na mão.
Mas o que aconteceu de lá pra cá?
Bom, em primeiro lugar, a supercapitalização acionária realizada em 2009/2010 não foi bem digerida pelos investidores. Muita gente achou que o Governo levou vantagem demais na jogada, aumentando seu percentual na empresa sem gastar um só ceitil. Fora isso, por conta da própria operação de aumento de capital, cada investidor teria que praticamente dobrar sua participação acionária para receber a mesma quantidade de dividendos anteriormente recebida. Quem não dobrou seu capital, hoje recebe aproximadamente metade do que recebia da repartição dos lucros da empresa.
Pra piorar, enquanto os preços do petróleo sobem lá fora, aqui eles não acompanham o mesmo ritmo.
Alguém poderia perguntar: “E daí? O que é que tem os preços do petróleo lá fora com os preços que se cobra aqui dentro? O Brasil não é autossuficiente em petróleo?”
O problema é o seguinte: o Brasil não é – ainda – autossuficiente em petróleo. Na verdade, por algum tempo, chegou a ser quase autossuficiente em produção de petróleo cru, mas nunca chegou nem perto de ser autossuficiente em derivados (gasolina, diesel, etc.). Por conta da falta de investimento de décadas no refino, hoje o Brasil importa praticamente metade do que consome diariamente em derivados de petróleo.
Disso resulta uma lógica econômica perversa: como a Petrobras não produz derivados em quantidade suficiente para atender à demanda interna, tem de importar para poder abastercer o mercado. Como os preços da gasolina e do diesel importados seguem as variações ditadas pelo mercado, cada vez que o petróleo sobe lá fora, aumenta também o custo da importação de gasolina e de diesel. Mas, como a Petrobras não consegue repassar os custos para os preços vendidos aqui dentro, seu prejuízo só faz aumentar.
Assim, a companhia precipita-se numa situação esquizofrênica. Enquanto toda companhia de petróleo quer vender mais derivados para poder lucrar mais, a Petrobras, quanto mais vende, mais prejuízo tem. E enquanto toda companhia petrolífera quer que o dólar suba, para poder ganhar mais exportando petróleo, a Petrobras quer que o dólar caia, pra diminuir os custos com importação.
Onde isso vai dar? Não sei. Mas, pra quem estuda história, especialmente o período compreendido entre o meio dos anos 70 e o começo dos anos 80, não é difícil imaginar o que acontecerá daqui a pouco.
Má gestão aliada a corporativismo e negócios no mínimo muito duvidosos explicam boa parte da questão. O que se deve perguntar( e quando isso ocorre as respostas são evasivas) é por que não se investiu pesadamente em refino e com que (má) intenção o governo aumentou a capitalização formal da empresa, em detrimento dos acionistas, estes obrigados a, realmente, cair com muita grana, para manter os lucros.
Concordo plenamente, Comandante. A questão do refino é um atraso de décadas. O problema é que parece que querem resolver tudo de uma vez, como se não houvesse amanhã. Aí, já viu, né? Abraços.