Poucos dias antes de começarem os Jogos Olímpicos de Londres, o astro do basquete americano, Kobe Bryant, indagado sobre a qualidade da atual seleção de basquete americana, aventurou-se a divagar sobre um possível confronto entre ela e o mítico Dream Team de 1992. Sem titubear, Kobe disparou:
“Do ponto de vista do basquete, eles obviamente eram muito mais altos do que nós somos, com David Robinson, Patrick Ewing, Karl Malone e outros. Mas muitos deles eram também mais velhos que nós, quase em fim de carreira. Nós temos um bando de ‘cavalos de corrida’, caras com fome de competir… Seria um duelo difícil, mas acho que levaríamos a melhor”.
Como se diz no Nordeste, não sei que tipo de bebida Kobe bebeu – ou a qualidade do cigarro que fumou – mas o fato é que foi uma das maiores besteiras esportivas que eu já vi nos últimos anos. E se isso poderia ser apenas uma suspeita antes dos Jogos, depois deles tornou-se uma certeza matemática.
A impossibilidade material e cronológica de realizar o confronto hipotético recomendaria desde já prudência na análise. Além da falta de canja de galinha, Kobe denotou uma soberba incompatível para quem, na melhor das hipóteses, esquentaria o banco daquele que foi, sem dúvida, o maior time de basquete de todos os tempos.
Pra começo de conversa, o Dream Team de 92 reunia 3 dos 5 maiores jogadores da história do basquete: Erwin “Magic” Johnson, Larry Bird e, claro, Michael Jordan. Para completar os 5, ficariam faltando somente Kareem Abdul-Jabbar e Wilt Chamberlain. Mesmo assim, a seleção americana de 92 reunia pivôs lendários, como David Robinson e Patrick Ewing, além de alas-pivô tão carismáticos quanto versáteis, Charles Barkley, Karl Malone e Clyde Drexler. Isso para não falar em John Stockton, recordista de assistências na NBA e Scottie Pippen, fiel escudeiro de Michael Jordan que, junto com ele, levou o Chicago Bulls aos seus 6 títulos nacionais.
Ok. O time atual tem jogadores de excelente nível técnico, principalmente Lebron James, Kevin Durant e o próprio Kobe. Ainda assim, fora a altura mencionada por Kobe, os veteranos do Dream Team de 92 levavam ainda uma vantagem considerável em algo essencial ao basquete: jogavam coletivamente.
Quem assistiu às finais da NBA nos últimos anos pela ESPN, pôde ver Wlamir Marques, um dos maiores jogadores de basquete da história do Brasil, exasperar-se ao ver os times jogando em função apenas de um jogador. Como ele já se cansou de repetir, quando um jogador faz 50, 60 pontos numa partida, pode-se chamar isso de tudo, menos de basquete.
No caso do Dream Team, Magic Johnson, Larry Bird e mesmo Michael Jordan jogavam para o grupo. Todo o trabalho defensivo e ofensivo dava-se com a mesma qualidade. O jogo era distribuído de maneira uniforme, sem que houvesse fominhas em quadra.
Para quem gosta de números para comparar, basta dizer que, durante os Jogos Olímpicos de Barcelona, a seleção americana não pediu tempo nem sequer uma vez. Ganhou seus jogos por uma diferença média de 45 pontos, contra 32 da atual. Não ficaram sequer uma vez atrás do placar em nenhum jogo, enquanto a atual seleção esteve por mais de uma vez atrás contra Espanha e Argentina. Na final, o Dream Team venceu a Croácia por 33 pontos de diferença, ao passo que o time de Londres venceu a final nos últimos minutos, por apenas 7 pontos.
No fundo, no fundo, faltou a Kobe a percepção realista de Mike Krzyzewski, técnico da atual seleção americana, assistente técnico do time de Barcelona-92. Para ele, a comparação não é só despropositada. “Dream Team” deveria ser a alcunha somente daquele time. Todos os que vieram depois não deveria sequer dar-se o direito de utilizar a expressão.
Para quem ainda duvida, abaixo vai uma seleção de 10 dos melhores momentos do Dream Team de 92, o primeiro e único.