Todo mundo sabe – menos o pessoal que só assiste à Globo – que na semana que vem começam as Olimpíadas em Londres. O maior evento esportivo do mundo, reunindo o que há de melhor em quase todas as modalidades relevantes do planeta (e alguém por favor me explique o que é que o Badmington e o Hóquei na Grama fazem por lá).
E o futebol com isso?
O futebol faz parte dos Jogos desde 1908. Curiosamente, estreou na mesma Londres que agora servirá de palco mais uma vez para as Olimpíadas. Mas isso não vem ao caso.
Até a criação da Copa do Mundo da Fifa, as Olimpíadas estavam para o futebol como estão até hoje para todas as demais modalidades: a competição máxima do esporte. O auge, o topo, o sonho de qualquer desportista era ganhar uma medalha de ouro naquela competição. De tão importante, os Jogos emprestaram seu prestígio à então única seleção bicampeã do certame: o Uruguai, a Celeste Olímpica.
Desde a criação da Copa do Mundo, Fifa e COI disputam uma guerra fria. Como pano de fundo, ele, sempre ele: o vil metal.
Para tomar das Olimpíadas o título de competição mais importante de futebol do mundo, a Fifa determinou que somente jogadores amadores – isto é, que não fizessem parte de um time profissional de futebol – poderiam ser inscritos para os Jogos Olímpicos. Com isso, assegurava, de certo modo, o monopólio das principais estrelas para a Copa do Mundo, a qual seria disputada sempre pelas seleções principais dos países.
Com base nessa regra de amadorismo turva e fluida, muitos países que ficavam escondidos sob a Cortina de Ferro mandavam para os Jogos suas seleções principais. O argumento era simples: nos regimes comunistas, não havia futebol profissional. Logo, todos os jogadores – aí incluídos os grandes craques dos campeonatos nacionais – poderiam ser considerados amadores. Numa dessas, a União Soviética tomou do Brasil a medalha de ouro nos Jogos de Seul em 1988, um time que reunia craques como Bebeto, Taffarel e, claro, Romário.
Talvez por isso mesmo, em 1992 a Fifa mudou a regra e determinou um critério mais estrito para a convocação das Olimpíadas: só poderiam jogar aqueles que tivessem até 23 incompletos na data de realização da competição (com a admissão de até 3 jogadores acima desse limite). Isso gerou outra deformação: recheados de “gatos” – assim designados os jogadores que alteravam sua data de nascimento para jogarem em competições com restrição de idade – as seleções africanas deitaram e rolaram nos Jogos de 1996 e 2000, vencidos respectivamente por Nigéria e Camarões.
Mesmo sendo um torneio “menor” no cenário futebolístico internacional, as Olimpíadas se tornaram uma obsessão brasileira. Certamente, porque se trata do único título que ainda falta à seleção mais premiada do planeta. Conquistá-la é questão de honra, e a perda da medalha de ouro já vitimou técnicos como Leão e Luxemburgo.
E daí?
Daí que outro dia estava lendo o Blog do Meligeni e fiquei um pouco espantado com a sinceridade dele. Em um post, ele disse com todas as letras: “Me desculpem, mas eu vou torcer contra o futebol nas Olimpíadas“. Seu argumento é simples: o futebol já toma todo o espaço no cenário esportico nacional. Prende a atenção dos telespectadores, domina o horário televisivo e ainda monopoliza a verba publicitária envolvida no desporto.
E agora, no único momento em que todos os demais esportes têm a chance de desfrutar, por um mísero mês a cada quatro anos, a mesma atenção dispensada ao esporte bretão, vem o futebol para tentar acabar com a festa. Nem uma competição verdadeira se pode dizer que é, porque a limitação da idade transforma a competição numa disputa de sub-23. Uma seleção que ganhe as Olimpíadas não tem qualquer garantia de que tem um time apto a disputar uma Copa do Mundo, da qual participam os melhores. Duvida? Faça um retrospecto dos campeões olímpicos de um ano e os resultados de suas seleções principais na Copa do Mundo seguinte.
Se a Fifa não quer uma “Copa do Mundo” a cada 2 anos, o COI deveria logo abdicar do futebol nos Jogos Olímpicos. Por um lado, o futebol perderia mais um torneio mixuruca. Mas, em compensação, todo o esporte ganharia um bocado. Em atenção, em admiração e em respeito.
Quer saber? Vou fazer como Meligeni. Vou torcer contra o Brasil no futebol.
E viva o gataral africano nas Olimpíadas!!!