O problema da privacidade dos artistas

Ontem o dublê de apresentador-jornalista-poeta-escritor e sei lá mais o que Pedro Bial tratou em seu programa da questão da privacidade dos artistas e do assédio dos papparazzi sobre as estrelas do meio artístico. Desde logo, devo dizer que não assisti ao programa. Dele, aproveito apenas o mote para dizer o que penso sobre o assunto.

O ponto de partida de qualquer discussão sobre o assunto deve ser o público que consome o material recolhido a partir da invasão de privacidade. É dizer: se não houvesse quem comprasse revista de fofocas e afins – as principais responsáveis pelas “reportagens” que invadem a privacidade dos artistas – obviamente não existiria quem as publicasse. Se há invasão de privacidade, é porque tem gente interessada em bisbilhotar a vida alheia. Isso por um lado.

Por outro lado, boa parte da comunidade artística viva da superexposição na mídia. Na maior parte dos casos, tratam-se de celebridades que cairiam melhor em um freak show, constituindo aquilo que o falecido Casseta & Planeta classificaria como subcelebrities. Casos como uma mulher fruta qualquer dar uma “entrevista” nua, enquanto recebe pintura corporal. Ou as famosas manchetes de Caras, em que fulano vai para uma Ilha em Angra dos Reis para espairecer depois do penúltimo relacionamento rompido.

Como tudo cansa, eventualmente mesmo essas subcelebridades são vez por outra tomadas por acessos de reclusão, querendo resgatar a privacidade perdida. É nessas horas que o sujeito cai na tentação de acreditar que bater em fotógrafos leva a algo mais do que ser fotografado batendo em fotógrafos. E é justamente com esses “escândalos” que as vendidas vendem mais e ganham mais dinheiro.

Há, claro, aqueles que evitam a exposição da vida privada a qualquer custo, e conseguem fazer dela um espaço absolutamente autônomo da vida pública. Chico Buarque e Marisa Monte são os exemplos mais claros que me vêm à cabeça.

Seria muito bom, mas genuinamente inocente demais, esperar que aqueles que vivem da exposição da vida alheia pudessem “compreender” o momento de reclusão dos cidadãos e parar de aperriar os ses respectivos juízos quando eles quisessem. Mas não é isso que acontece na prática. Uma vez arrombada a porta, é inútil colocar-lhe um cadeado.

Na minha opinião, deveria haver um código de conduta segundo o qual, se o sujeito é daqueles que não expõe sua privacidade de forma alguma, nenhum veículo estaria autorizado a publicar sua vida íntima.  Pelo lado contrário, se o sujeito é daqueles que vive aparecendo em Caras, Contigo, TV Fama e outros do gênero, também não poderia reclamar caso um papparazzi tirasse fotos de sua lua de mel em Bali sem autorização.

Vejamos dois casos:

Primeiro, Daniela Ciccarelli e Ronaldo. Até pra comprar o pão com manteiga na padaria eles avisavam à imprensa para ir fotografar o “momento”. Depois, quando foram casar, resolveram fazer uma festa “restrita” aos convidados.

No outro caso, Chico Buarque tomando banho na condição de amante de uma mulher casada, no episódio que ficou marcado pela fantástica frase do filósofo cearense Falcão: “Levar um chifre do Chico Buarque é como ganhar um Oscar”.

Nos dois casos, fotógrafos tiveram a possibilidade de fazer o registro. A pergunta é: quem tinha mais razão em fazer escarcéu? O casal famosity ou o cantor recluso?

O problema é que esse tipo de restrição deveria vir da própria imprensa.

Aí, já viu, né?

Esta entrada foi publicada em Variedades e marcada com a tag , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.