Portugal x Espanha e Boca x Corinthians

De vez em quando este que vos escreve resolve dar suas cacetadas numa área que não é lá conhecida pela previsibilidade dos resultados: o futebol. Quase sempre, o Autor erra nas suas previsões. Mas como teimosia pouca é bobagem, vamos ao programa de 9 em cada 10 homens no dia de hoje (o outro está doente no hospital): Portugal x Espanha, na semifinal da Eurocopa; e Boca x Corinthians, na final da Libertadores.

De acordo com a maior parte da mídia esportiva, o duelo europeu pode ser resumido ao seguinte esquema: 1 magistral português contra 11 excelentes espanhóis. Cristiano Ronaldo, supostamente o único jogador no mundo comparável a Messi, teria pela frente a Esquadra Espanhola, com sua irritante tática de trocar passes à exaustão até encontrar a melhor oportunidade de chegar na cara do gol.

Eu modestamente ouso discordar. Na minha opinião, Cristiano Ronaldo é overrated, totalmente sobrevalorizado, um jogador mais conhecido pela imagem que o envolve do que propriamente por suas jogadas em campo.

É fato: o sujeito fez um catatal de gols nesta temporada. E, de vez em quando, joga realmente bem. Mas quando você pára pra ver os adversários, algo incomoda. Quando joga contra times de quinta categoria como Múrcia ou Levante, Cristiano Ronaldo dá show, faz 15 gols, dá passe pra outros 30 e dá chápeu em metade da arquibancada. Quando joga contra o Barcelona, apequena-se, some em campo e sua participação resume-se à aparição nos telões do estádio. Nesse aspecto, não difere muito, por exemplo, de Kaká, outro caso típico de supervalorização midiática.

Craque, na acepção estrita do termo, é aquele jogador que decide nos grandes momentos, contra grandes adversários. Fazer 5 gols contra o São João de Araras até jogadores como Denilson já fizeram. Mas chamar a responsabilidade em um jogo decisivo e, sozinho, resolver a parada, é tarefa para poucos. Vide, por exemplo, o que aconteceu no último jogo das eliminatórias da Copa de 1994. Se perdesse, o Brasil ficaria pela primeira vez fora de uma copa do mundo. Romário, convocado por um contrariado Parreira, destruiu o jogo, fez dois gols e garantia a vaga na copa que traria o tetra para o país. Nesse confronto, Cristiano Ronaldo está mais para um jogador-foca, daqueles que empinam a bola no nariz, como Denilson, do que propriamente para um Romário?

Meu palpite? 2 x 0 Espanha.

No outro jogo, teremos o confronto da retranca. De um lado, a retranca clássica argentina, ajudada  pela pressão inimaginável da Bombonera e pela elegância de Riquelme em campo. Do outro, a retranca moderna de Tite, com sua treinabilidade e outros vocábulos exóticos.

Corinthians e Boca têm tudo para fazer um jogo tão tenso quanto chato. Nenhum dos dois times se destaca pela técnica ou pela qualidade do jogo. Pelo contrário. Suas principais armas são a destruição de jogadas e as “jogadas de bola parada” para garantir vitórias magérrimas de 1/2 a 0.

Verdade seja dita: em termos de campanha, o Corinthians tem uma campanha melhor do que a do Boca. Com sua retrancabilidade, Tite conseguiu fazer com que um time verdadeiramente safado, sem nenhum craque, conseguisse chegar a uma final de Libertadores segurando empates, como no caso do Santos, ou ganhando jogos com gols espíritas aos 43 do segundo tempo, como no caso do Vasco.

Já o Boca chegou à final muito mais pelo peso da camisa e da tradição do que propriamente pela bola que jogou. Salvo um lampejo ou outro de Riquelme, que nem de longe lembra o jogador que acabou com o Palmeiras na mesma decisão de Libertadores no ano 2000, não há muito talento no time. Só mesmo a torcida e a raça podem explicar como um time assim, tão limitado, possa ter chegado à final continental.

Quanto a esse jogo, tenho pra mim que o Boca ganhará por 2 x 0 ou 2 x 1. Com alguma sorte, garantirá um empate e o título na semana que vem, assegurando ao restante da população brasileira a sobrevivência da piada segundo a qual, após ganhar o título da Libertadores, todo corintiano desliga o Playstation e vai dormir.

Mas, no final das contas, o vencedor desse jogo não importa. No confronto das retrancas, não há vencedores, só um perdedor: o futebol. Entre retrancas e chutões, assistiremos a um espetáculo que contraria tudo o que o esporte prega: a qualidade do jogo e a busca incessante pelo gol. Quanto a isso, Boca e Corinthians terão pouco a oferecer.

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