As guerras cambiais

Uma das maiores modas do comércio internacional atual são as guerras cambiais. O Brasil reclama dos Estados Unidos, que imprime dólares como se não houvesse amanhã. Os americanos reclamam do Japão, que compra dólares em quantidade maciça para evitar uma sobrevalorização do iene. E todo mundo reclama da China, que mantém artificialmente o yuan desvalorizado, prejudicando o resto do planeta.

Guerras cambiais tornam-se moda principalmente em tempos de crise. Com a economia interna estagnada, a primeira idéia que vem à cabeça dos governantes é promover as exportações do país. Com isso, pretende-se contrabalançar a queda da atividade produtiva decorrente da queda de consumo da população com um incremento nas vendas externas. No final das contas, a economia inteira sairia do buraco rebocada pelo setor exportador.

Há várias maneiras de fazer isso, digamos, licitamente. Baixar impostos, qualificar mão-de-obra, desenvolver maquinário, tudo isso contribui para que se possa produzir a mesma coisa por um preço menor e, assim, vender mais ao exterior.

O problema é que, por uma razão ou por outra, nem sempre se pode fazer desse jeito. Baixar impostos significa queda de arrecadação, e a maior parte dos países que passam por crises econômicas acabam enfrentando, mais cedo ou mais tarde, uma crise fiscal, resultado da queda da atividade econômica. Qualificar mão-de-obra e desenvolver tecnologia resolve, mas não é uma solução imediata. Normalmente, leva-se tempo até ver a educação dos trabalhadores e a maturação de desenvolvimento de novos equipamentos produzirem efeitos práticos no aumento da produtividade industrial.

E aí, o que fazer?

Nesses casos, 11 em cada 10 governos mundo afora optam pela via política e economicamente “mais fácil”: desvalorizar a moeda. Desvalorizando a moeda, o governo não precisa abrir mão de arrecadação, não precisa queimar pestana em educar o povo e nem se coçar para ajudar a indústria a se desenvolver. Como se fosse mágica, ele produz com o movimento cambial o mesmo resultado que decorreria de um aumento da produtividade.

Imagine, por exemplo, uma empresa que fabrica um produto por R$ 100,00. Com o dólar a R$ 2,00, exporta-se esse produto por US$ 50,00.

Agora, imagine que o governo brasileiro resolvesse promover uma desvalorização de 25% do Real. Nesse caso, US$ 1,00 passaria a valer R$ 2,50. O mesmo produto passaria a ser vendido por US$ 40,00. Como em um passe de mágica, sem qualquer esforço para aumentar a competividade e baixar o custo de produção, a mesma coisa ganhou um “desconto” de um quarto do preço original.

Justamente pela facilidade e pela virtual ausência de risco político, tantos governos optam por essa saída. O problema é que, depois de aberta a porteira, é difícil segurar a boiada. Países que normalmente não fariam tais desvalorizações acabam se sentido tentados a fazê-lo, só para não posarem de patos na história. Dessa forma, os “ganhos” da desvalorização da moeda acabam sendo anulados pela desvalorização das demais, fazendo com a guerra cambial se torne um jogo de soma zero.

E aí, entre o “eu-desvalorizo” e o “tu-desvalorizas”, “nós-nos-ferramos”.

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