Avizinham-se as eleições municipais. E, com elas, assistiremos novamente a um grotesco filme que se repete de dois em dois anos: as candidaturas de entressafra.
“Mas que raios são ‘candidaturas de entressafra'”?
Seguinte: há, é claro, candidatos que efetivamente entra na disputa municipal para tentar ganhar a eleição. Seja um bom candidato ou mesmo um picareta, o sujeito realmente entra com a disposição e o empenho de ganhar a parada. Joga todas as suas fichas, faz alianças até com quem outrora era inimigo e recebe contribuiçõe$ de empresas notórias por corromper funcionários públicos. Até aí, tudo bem. Candidata-se quem quer e o povo que decida o que é melhor pra ele.
Mas existem aqueles que não entram pra ganhar. Entram apenas para participar da eleição.
“Como assim? Entram pra perder”? Deve estar se perguntando você.
Não exatamente. Ele não entra pra ganhar, mas também não perde. Trata-se de uma jogada de médio prazo.
Com a natural exposição da campanha – debates, entrevistas televisivas, horário eleitoral gratuito, etc. – o sujeito ganha notoriedade. Passa a ser conhecido da população e, portanto, ganha alguma projeção no cenário político. Se já for relativamente conhecido, não faz mal. A exposição midiática servirá para relembrar ou consolidar o conhecimento da figura no eleitorado local.
Na verdade, o objetivo dos candidatos de entressagra não é ganhar imediatamente a eleição, mas utilizar o horário eleitoral e a campanha municipal para, daqui a dois anos, tentar uma (re)eleição pra valer para um outro cargo – deputado estadual, federal, senador ou mesmo governador de Estado. Por isso mesmo, dezenas de deputados e senadores abandonam o cotidiano burocrático de Brasília e se entregam de corpo e alma a campanhas que sabem perdidas somente para garantir que, na próxima eleição, terão os votos de sua reeleção garantidos.
No fundo, no fundo, é uma grande piada. Trata-se de um jogo em que o sujeito não perde, só ganha. Se ganhar a eleição municipal, ótimo. Se perder, pelo menos conseguiu exposição suficiente para facilitar sua reeleição. Tudo isso com a garantia de que, mesmo em caso de derrota, seu cargo no Parlamento estará lá, esperando por ele.
Fora os candidatos de entressafra, há também os espertalhões que se candidatam somente para fazer propaganda da própria figura e, depois, lucrar comercialmente com a exposição na mídia. Os casos são vários. Desde advogados que querem mais clientes, passando por médicos e até mesmo educadores, que querem mais alunos em suas escolas.
Há uma forma muito simples de acabar com essa pantomina. Basta mudar a Constituição e estabelecer que, assim como os ocupantes de cargos do Executivo (prefeito, governador e Presidente), também os ocupantes de cargos no Legislativo devem se desincompatibilizar seis meses antes da eleição. Assim, perdida a eleição, perdido estará também o doce cargo no Parlamento.
Com isso, é bem possível que a nossa representação parlamentar melhore em nível e em compromisso com o povo. Na pior das hipóteses, pelo menos acabaríamos com essa farsa de candidatos que só participam do lucro, mas não do prejuízo.