O tal do “spread” bancário

Desde que a Presidente Dilma Roussef resolveu peitar a banca e brigar pela queda das escorchantes taxas de juros que cobram à escumalha, a imprensa noticia as idas e vindas entre os bancos privados, que querem manter os juros nas alturas, e os bancos públicos, que, obedientes ao governo, insistem em baixá-los. Trata-se de uma briga envolvendo um conceito estranho para a maior parte da população: o spread bancário.

A questão é a seguinte: todo o banco, em tese, vive da função de intermediar a troca de dinheiro. Há gente que tem mais e gente que tem menos. Os que tem mais, tem duas opções: ou torram tudo, ou investem o que sobrar da gastança. Os que tem menos também tem duas: resignar-se com o que tem, ou pedir dinheiro emprestado.

É justamente para fazer o meio-campo entre os que tem mais e decidem não gastar e os que tem menos e decidem pedir dinheiro emprestado que os bancos entram no negócio. Eles recebem dinheiro dos que querem investir e dizem “vou te devolver o que você investiu em X dias. Para isso, vou te remunerar em X% sobre o depósito”; e emprestam aos que precisam de dinheiro, dizendo “você tem que me devolver em tantos dias, pagando o que pediu emprestado mais X%”.

Suponha a seguinte situação: você, que tem muito dinheiro, resolver investir R$ 100.000,00. Ao final de um ano, o banco promete devolver-lhe R$ 110.000,00. Logo, você terá em um ano a remuneração de 10% a.a. sobre o patrimônio.

Na outra ponta, um pobre coitado querendo abrir um negócio, precisa dos mesmos R$ 100.000,00. O banco empresta-lhe mediante o pagamento de 12 parcelas mensais de R$ 10.000,00. Ao final de um ano, o pobre coitado terá pagado R$ 120.000,00, o que equivale aproximadamente a uma taxa de juros de 20% a.a.

Como R$ 110.000,00 o banco tem que devolver ao investidor, os R$ 10.000,00 que sobram ficam, limpinhos, para o banco. É justamente essa diferença entre a taxa de remuneração ao investidor e a taxa cobrada nos empréstimos que constitui o chamado spread bancário.

O problema é que, já há algum tempo, o Brasil vivia uma deformidade. Enquanto a taxa básica de juros rondava os 10% a.a., os bancos cobravam mais de 100% a.a. em algumas linhas de financiamento. Curiosamente, quando o juro básico caía, a remuneração do investidor caía na mesma proporção. Mas a taxa de juros cobrada nos empréstimos se mantinha inalterada. Quer dizer, o banco pagava menos ao investidor enquanto continuava cobrando o mesmo – ou às vezes mais – do pobre coitado do devedor.

Foi contra essa deformação financeira que se insurgiu a Presidente Dilma. Os bancos, claro, chiaram. Dizem que a vida vai mal a inadimplência subiu e os impostos são muito altos. Embromação da braba. Nada justifica tamanha desproporção entre as taxas de remuneração e de empréstimos financeiros. Não à toa, as casas bancárias do Brasil ostentam os maiores índices de rentabilidade do planeta.

Felizmente, apareceu alguém com cojones suficientes para encarar o desafio. Espera-se que tenha sucesso na sua empreitada.

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