O islã contra o terror

Há espalhado pelo mundo um certo preconceito a associar os seguidores de Maomé a terroristas em potencial. Coisas do mundo ocidental: toda vez que você vê na TV ou lê em um jornal algo sobre o mundo islâmico, logo vem à cabeça a imagem de um fanático vestido com bombas, pronto para se explodir em alguém próximo. Por conta disso, islã e terror passaram a ser visto como causa e conseqüência da maior parte dos sanguinários atentados praticados contra a população civil de vários países. É uma pena, pois o islamismo está longe de ser uma religião por definição violenta. Aliás, um dos significados do próprio nome – Islam – é “paz”.

Nascida mais de 600 anos depois de Cristo, a religião islâmica conserva boa parte da herança cristã. É dizer: do ponto de vista histórico e teológico, boa parte do que prega a doutrina cristã foi incorporada pelo islamismo. Os profetas, por exemplo, são os mesmos: Abraão, Moisés, David, Jacó, etc. Boa parte dos livros sagrados também: o Pentateuco, os Evangelhos e os Salmos são exemplos disso.

A diferença radical, no entanto, é que, para os cristãos, Cristo é o filho encarnado de Deus. Ou, como defendem alguns segmentos protestantes, o próprio Deus. Para os muçulmanos, ele é apenas mais um profeta. Além disso, os muçulmanos renegam a Santíssima Trindade. Para eles, somente Allah (Deus) é realmente Deus. Daí a profissão de fé muçulmana: Allah é o único Deus. E Maomé é o seu profeta.

Maomé, como esperado, ocupa lugar central na doutrina islâmica. Afinal, foi para ele que o Anjo Gabriel teria aparecido em um sonho e revelado que ele seria o último profeta responsável por disseminar a palavra de Deus. Com a força da palavra e das armas, Maomé unificou as tribos árabes e expandiu o Império Muçulmano, tornando-se uma ameaça real ao poder e à Igreja de Roma. Talvez daí venha a inspiração para uma passagem que se tornou sinônimo de absolvição divina para os terroristas muçulmanos:

“Combatei-os [os não muçulmanos] e Allah [Deus] os punirá através das vossas mão, cobrindo-os de vergonha”. (Sura 9:14)

O problema é que essa passagem foi produzida em outro contexto histórico. Para uma religião nova, que acabara de nascer, nada mais natural do que redimir com o perdão divino  quem morresse para defendê-la. E, à época, “defendê-la” significava tanto protegê-la de invasões estrangeiras (vide as Cruzadas) como estender seus limites fronteiriços (leia-se: conquistar territórios).

A Bíblia, por exemplo, também faz das suas em matéria de violência. No seu primeiro livro (15:3), Samuel diz a Saul:

“Vais, pois, agora e fere a Amaleque; e destrói totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até a mulher, desde os meninos até aos de peito, desde os bois até as ovelhas, e desde os camelos até aos jumentos”.

Relutante, Saul cumpre a ordem, mas decide poupar algumas vítimas, fato que deixou o Todo-Poderoso com uma ponta de amargura (15:2):

“Arrependo-me de haver posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir, e não cumpriu as minhas palavras”.

O problema, portanto, não está nos livros ou nos ensinamentos religiosos, mas na leitura tendenciosa e equivocada de determinadas pessoas para satisfazer algum objetivo, no mais das vezes, puramente político. E isso pode acontecer tanto de um lado como de outro. Vide alguns atentados praticados por seitas cristãs fundamentalistas que explodiram algumas clínicas de aborto nos Estados Unidos, no final dos anos 80 e no começo dos anos 90.

Ok. A maior parte dos terroristas de hoje são mesmo muçulmanos. Mas eles estão concentrados em países em que, de um modo (com os EUA) ou de outro (sem ele), privam suas populações de direitos básicos. Na Alemanha, por exemplo, moram mais de 6 milhões de muçulmanos, e não se ouve palavra sobre atentados por lá. O risco germânico, na verdade, vem do outro lado, dos neonazistas que adoram espancar a torto e a direito aqueles que julgam inferiores, árabes entre eles.

O preconceito, portanto, é um péssimo ponto de partida para entender a religião islâmica. Como quase tudo na vida, o conhecimento conduz à compreensão e ao entendimento.

Oxalá israelenses e americanos entendam isso um dia…

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