O mal da reeleição

Muitos foram os males deixados pelo Governo Fernando Henrique Cardoso. País quebrado, devendo a todo mundo e ao FMI, dólar e inflação nas alturas, 8 anos sem aumento real de renda, 8 anos sem crescimento econômico, Procurador-geral conhecido por Engavetador-geral da República, enfim…eu levaria um dia inteiro aqui só enumerando as desgraças pelas quais passou o país naquele que eu considero o pior governo da história. Nenhum, no entanto, supera o mal da reeleição.

Em tese, reeleição é uma idéia boa. Dá ao eleitor a oportunidade de votar novamente em um governante do qual gosta. Para o governante, serve de estímulo para que faça um bom governo e, com isso, seja premiado pelo povo com mais um mandato. O problema, como se sabe, é que, na prática, a teoria é outra.

Se mesmo num país civilizado as reeleições desequilibram a disputa eleitoral, que dizer de um país em que ainda há milhões de analfabetos e em que milhões de pessoas dependem diretamente do governo para ter um prato de arroz e feijão para comer.

Sim, isso já acontecia antes. Ficou famosa a frase de Orestes Quércia dizendo após conseguir eleger Luís Antônio Fleury Filho: “Quebrei o Estado, mas fiz meu sucessor”. Mas se isso acontecia antes para uma terceira pessoa, imagine quando ó beneficiado pela sucessão é o próprio portador da caneta que nomeia cargos e libera verbas.

Fora todos os problemas, a reeleição ainda trouxe consigo um efeito nefasto. Antes, com mandatos de cinco anos, os governantes passavam a metade do governo em dolce far niente. Na outra metade, corriam pra terminar as obras a tempo de inaugurá-las e conseguir dividendos eleitorais a serem transferidos para seu candidato. Agora, os governantes lançam no primeiro mandato um mundo de obras, prometendo terminá-as em 4 anos. Mas elas nunca terminam nesse prazo. Tudo fica pra terminar num eventual segundo mandato. Isso quando terminam, porque pululam os casos em que nem com 8 anos de mandato o sujeito consegue terminar as obras que deveriam ter terminado no primeiro mandato. Vide os casos de Fortaleza e do Estado do Ceará. Em suma: as obras que antes demoravam 5 anos para ficarem prontas, agora demoram, quando menos, 8.

Produz-se, assim, uma espécie de chantagem contra o eleitor. Se não votar na reeleição do governante da hora, corre o risco de não ver terminadas as obras licitadas no primeiro mandato. Isso porque sempre fica a dúvida: será que o opositor continuará as obras do antecessor?

O Brasil começará a ser um país melhor no dia em que assumir um presidente afirmando o seguinte: mandarei uma emenda acabando com a reeleição e estendendo o mandato do meu sucessor de 4 para 5 anos. Pode não fazer mais nada. Mas pelo menos devolverá a política brasileira ao trilho da normalidade institucional.

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