As políticas públicas e o petróleo do pré-sal

Se tem uma expressão que é figurinha fácil nos discursos de políticos ela se chama “políticas públicas”. Em quase todos os casos, quando alguém usa essa expressão, isso significa que ele está a tentar ludibriar o interlocutor. Ou, em português claro: responde sem saber o que está respondendo, só pra não dizer “não sei”.

A banalização acabou por tornar a expressão sinônino de empulhação. Tudo se resolve com “políticas públicas”. A verdadeira panacéia do país. É uma pena, pois, quando bem utilizada, a expressão sugere que o sujeito tem algum tipo de plano ou de idéia de que tipo de mundo ou de país ele quer. Vamos a um exemplo:

Há alguns anos o Brasil descobriu o óleo do pré-sal. Beleza. Fazer o quê? Extrai o petróleo cru e o exporta? Ou o utiliza para produzir derivados de petróleo e só depois revender (gasolina, diesel, querosene de aviação, etc)?

À primeira vista, a resposta parece óbvia: “Processa o petróleo e vende os derivados, né?” Não é tão fácil assim.

Primeiro, processar petróleo demanda investimentos pesados na construção de refinarias. Dinheiro que nem a Petrobrás nem o Governo tinham. Além disso, em termos financeiros, o refino tem uma margem de lucro bem pequena e extremamente volúvel: umas horas sobe, outras horas desce, e assim vai. Por isso, investir na solução “óbvia” implica arriscar um monte de dinheiro num negócio de retorno imprevisível.

De outro lado, exportar óleo cru é bem mais fácil, demanda menos investimento, e, por isso mesmo, a margem de retorno é maior e (um pouco) mais segura; fica-se a depender “somente” da variação do preço internacional do petróleo.

Aí, vem a questão: que tipo de política pública quer-se para o pré-sal?

A definição, portanto, resume-se a uma opção política. Pesam-se os prós e os contras e define-se uma linha de atuação.

Desde logo, o barbudinho de São Bernardo vislumbrou que o pré-sal seria uma oportunidade de desenvolvimento para o país. De fato, investir em refino implica riscos sérios. No entanto, desses riscos surgirão novos empregos na área petroquímica, mais dinheiro em investimentos de P&D e – como a experiência recente mostrou ser importante – autossuficiência em derivados de petróleo. Sim, pois o Brasil pode ser autossuficiente em petróleo, mas não o é (ainda) em gasolina, diesel e outros derivados.

É possível que dê errado? Que a opção feita pelo governo Lula seja, no final das contas, errada? Sim, é possível. Mas, entre a opção de deitar-se em óleo esplêndido e viver de exportação de produtos in natura e outra, de se impulsionar o desenvolvimento industrial do país, mais vale comprar o risco da segunda do que viver gostosamente condenando-se à mediocridade da primeira. Ponto para Lula.

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