Crônica de um matemático frustrado – parte 2

Antes de decifrar e deduzir equações de geometria espacial no 3º ano, o matemático que havia em mim já se insuava em vôos um pouco mais modestos.

Na oitava série, entre uma aula e outra de química, vinham-me à mente os mais variados pensamentos. É fato, alguns não eram exatamente próprios deste espaço, pois fariam corar mesmo ao mais profano de seus visitantes.

Mas nem só de pensamentos pecaminosos vivia a mente deste adolescente irriquieto. Vez por outra, pegava-me pensando em coisas mais sérias da vida e, invariavelmente, em outras matérias de que gostava mais. A matemática era uma delas.

Curiosamente, a matemática não é vista como ciência por boa parte daqueles que defendem um certo rigorismo na metodologia científica. Para os xiistas, matemática não é ciência, mas linguagem.

De todo modo, voltando ao assunto, entre um cochilo e outro, de quando em vez, ficava matutando fórmulas matemáticas na cabeça. Intrigava-me o fato de que, dado um determinado número, a multiplicação de seu antecessor pelo seu sucessor resultava no quadrado do número menos um.

Por exemplo: 6. O antecessor (5) multiplicado pelo sucessor (7) resulta em 35. 6 ao quadrado é 36. Menos um: 35.

Munido de caneta e papel, pus-me então a decifrar o enigma que me assombrava.

A um dado número, dei o nome de X. Seu antecessor seria X-1; seu sucessor, X+1.

Estruturando a equação, teríamos: X^2 – 1 = (X-1).(x+1)

(Traduzindo: X ao quadrado menos 1 é igual a X-1 vezes X+1)

Pronto. Enigma solucionado.

Maravilhado diante de minha grande descoberta matemática, que certamente revolucionaria todos os conceitos existentes desde Pitágoras, fui compartilhar minha felicidade com meu professor de matemátiva da 8ª série.

Passo a passo, expliquei meu raciocínio. Pontuei cada vírgula da equação, de maneira que resultasse claro até para um símio.

Sem falar nada, o professor apenas observava o que escrevia.

Ao final, olhou para mim e, sem conter o riso, perguntou-me entre gargalhadas:

“Quer dizer que você descobriu que X^2 -1 = (X+1). (X-1)?!?! Nossa, você é um gênio!!!”

Acabrunhado, percebi que simplesmente “descobrira” a ordem inversa de uma equação que fora ensinada no começo do ano: (X+1).(X-1) = X^2-1.

Deveria ter aprendido desse episódio que matemática não era a minha praia. Tudo bem. Quem leu a primeira parte desta crônica sabe que a lição foi aprendida mais tarde.

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