A palhaçada da extrema-direita, ou Salvem o foro privilegiado – Parte II

Era só o que me faltava.

Quando a máquina judiciária, comandada pela mão-de-ferro do ministro Alexandre “Xandão” de Moraes, começa a sair dos bagrinhos para pegar enfim os baiacus, lá vem a galera da extrema-direita defender o “fim do foro privilegiado”. Como se cara-de-pau pouca fosse bobagem, os defensores dessa “proposta” nem sequer fazem questão de esconder o que está por trás do embuste: uma “anistia” para “apaziguar” o país.

Sem meias palavras, essa estultice é vulgar na forma, hipócrita no fundamento e, acima de tudo, vergonhosa nos propósitos a que se destina.

A proposta do fim do foro privilegiado é vulgar na forma porque, assim como em todas as outras oportunidades em que ela surge (cf. aqui), os parlamentares só começam a defendê-la quando gente que lhes é próxima começa a ser acossada pelo braço da Justiça. A proposta ora em análise, por exemplo, foi aprovada pelo Senado em 2017. Desde então, encontra-se parada na Câmara dos Deputados.

Nesse período, contam-se quatro anos de governo Bolsonaro, mandato no qual a extrema-direita não só dispunha de maioria folgada no Congresso, como ainda contava com a caneta amiga na mão do Presidente. Por que não fizeram esse esforço lá atrás, deixando-o para fazer agora? Entre outras coisas, porque as rachadinhas do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro recomendavam que o filho 01 do Jair buscasse o refrigério das cortes superiores, e não o calor do juiz de 1º grau que havia mandado quebrar o sigilo bancário dele, de Fabrício Queiroz e Cia. Ltda. Agora, quando parte dessa gente começa a sentir o bafo da PF queimando o cangote, esse pessoal vem falar em derrubar o “privilégio”.

A proposta de fim do foro privilegiado é hipócrita no fundamento porque, essa galera que agora está a defender o fim do foro privilegiado, é a mesma que defende a tese segundo a qual “bandido bom é bandido morto e enterrado pra servir de adubo”. Dê-se por entendido, portanto, que o pessoal da extrema-direita reza por outra cartilha quando é gente da sua laia é investigada. Aparentemente, para eles “bandido bom” é bandido que comete crimes – inclusive contra a democracia – desde que seja “a nosso favor”.

Por fim, a proposta do fim do foro privilegiado é vergonhosa nos propósitos a que se destina porque seu intuito não é o somente de tirar das mãos de Alexandre de Moraes a condução dos inquéritos que estão a acossar aqueles que passaram quatro anos tendo seus crimes acobertados pelas ameaças anti-democráticas de Jair Bolsonaro. Isso é só o começo. A idéia, como o próprio Senador Rogério Marinho fez questão de frisar, é anistiar todos esses criminosos, sob o argumento de que “essa é a cultura do Brasil, do apaziguamento, sem que haja possibilidade de que aqueles que cometeram crimes sejam processados de maneira adequada” (negrito nosso).

O que esse pessoal está tentando, em resumo, é simplesmente impedir que se investiguem os inúmeros crimes cometidos por Jair e sua trupe nos quatro anos de desgoverno bolsonarista, seja através de uma burla à jurisdição do STF, seja através de uma anistia direta a todos os envolvidos nesses malfeitos.

Não é hora daqueles que entendem o que está em jogo recuarem. Muito menos daqueles que, entendendo o que está em jogo, omitirem-se com medo de enfrentar as consequências de suas posições. O que a vida quer da gente é coragem, como diria Guimarães Rosa.

Anistia?

Nunca mais.

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