Pois bem, meus caros.
Já que domingo que vem teremos mais um Oscar para acompanhar, vamos ao tradicional bolão cinematográfico do Dando a cara a tapa.
Depois de uma longa sequência invicta na categoria principal do prêmio, os dois últimos chutes do Blog foram malogrados. Se no primeiro caso – a bizarra troca de prêmios entre La la landa e Moonlight – ainda poderíamos atribuir a “culpa” aos “hackers, no segundo a única “explicação” é que a Academia de Hollywood resolveu abraçar de vez a comédia. Sim, porque somente um comediante de muito mau gosto poderia conceber que um filme tão absurdamente fraco como Green Book tenha levado pra casa a estatueta de melhor filme. E, a julgar pelo que indicam as “prévias” do Oscar, a vocação para o ridículo deve dar novamente as caras neste ano.
Não que este tenha sido um ano particularmente ruim em termos de produções cinematográficas. Muito pelo contrário. Fazia muito tempo que não havia tantos e tão bons filmes concorrendo ao Oscar. Louve-se, a esse respeito, a lufada de renovação que veio dos serviços de streaming, Netflix em particular. Sem eles, pelo menos metade dos concorrentes que elevam 2019 a um dos melhores anos de todos os tempos no cinema mundial ficariam pelo caminho. Certas coisas, contudo, simplesmente não se explicam.
Como explicar, por exemplo, o rol da categoria de melhor ator? Tudo bem que os comediantes sempre entram em desvantagem nesse quesito – basta lembrar que os últimos vencedores em comédia nessa categoria datam do milênio passado (Roberto Benigni e Jack Nicholson). Mas, se isso explica a ausência de Eddie Murphy, passa longe de justificar a omissão em relação a Robert de Niro (O Irlandês) e Taron Egerton (Rocketman).
Para nós, brasileiros, resta o consolo de torcer por Petra Costa na categoria Melhor Documentário. Independentemente do que se possa achar sobre o seu conteúdo, o fato é que o filme é tecnicamente perfeito e um primor de beleza cinematográfica. É difícil, aliás, lembrar um documentário visualmente tão bonito quanto o produzido pela diretora brasileira.
Sem mais delongas, vamos então ao palpitão do Oscar 2020:
1 – Melhor ator: Já fiz minhas ressalvas anteriormente. Joaquin Phoenix levou tudo até agora e não há razão para achar que não vá levar também este para casa. Dentre os indicados, ele de fato é o melhor. O bizarro, que passou em brancas nuvens a muita gente, é que a única personagem a dar dois Oscar a dois atores diferentes até hoje foi Vito Corleone, com Marlon Brando ganhando na categoria principal (O Poderoso Chefão) e Robert de Niro como coadjuvante (O Poderoso Chefão – Parte II). Agora, teremos o CORINGA (!!) dando uma estatueta póstuma a Heath Ledger (coadjuvante) e Joaquin Phoenix (principal).
2 – Melhor atriz: Todos os prêmios de ator este ano são uma barbada, e o prêmio de melhor atriz não foge à regra. Renée Zellweger com sua Judy deve levar sua segunda estatueta pra casa, embora o prêmio mais apropriado fosse para Scarlet Johansson.
3 – Melhor atriz coadjuvante: Outra barbada. E, nesse caso, com bastante justiça, pois o trabalho de Laura Dern em História de um casamento é bastante superior aos outros.
4 – Melhor ator coadjuvante: Numa categoria em que concorrem Sir Anthony Hopkins, Tom Hanks (!), Joe Pesci (!!) e Al Pacino (!!!), o prêmio vai para… BRAD PITT. Tudo bem que Joe Pesci e Al Pacino, como concorrentes dentro do mesmo filme, tendem a se canibalizar na votação. Mas, numa categoria com tantos monstros sagrados, dar o prêmio a Brad Pitt em um papel que nem é o melhor da sua carreira só pode ser piada. E vocês ainda querem que eu leve o Oscar a sério.
5 – Melhor filme de animação: Eis aí uma categoria que está completamente em aberto. Os entendidos dizem que Klaus vai ganhar, enquanto muita gente boa aposta em Como treinar seu dragão. De minha parte, acho que dificilmente o prêmio não vai para Toy Story 4.
6 – Melhor Fotografia: Via de regra, prêmios técnicos costumam ser atribuídos aos líderes de indicações. Nesse caso, mas não somente por causa disso, o prêmio tem que ir para 1917, porque é justamente nessa categoria que o filme se sobressai.
7 – Melhor montagem: A maioria arrisca o prêmio para outro líder de indicações, Parasita. Eu daria o prêmio a O Irlandêns sem pensar duas vezes. Mesmo assim, acho que o vencedor será JoJo Rabbit.
8 – Melhores efeitos especiais: A “lógica” indicaria que o prêmio fosse para Vingadores: Endgame, por razões óbvias (porque o filme não tem absolutamente nada a oferecer além disso e a Academia tem que fazer a média com o público mais jovem que gostam dessas porcarias feitas para estourar bilheteria). Os mais técnicos, por outro lado, julgam que o prêmio deve ir para 1917. Mesmo assim, acho que o sutil trabalho de rejuvenescimento de Pesci, de Niro e Pacino em O Irlandês deve ganhar a parada pelo menos nesse quesito.
9 – Melhor edição de som: Há quem entenda que 1917 vai levar nessa categoria, mas eu sinceramente creio que Ford v. Ferrari deve aqui levar seu prêmio de consolação pra casa.
10 – Mixagem de som: Outro prêmio que os entendidos julgam que irá para 1917, mas que eu acredito que irá surpreender com Joker.
11 – Melhor Roteiro Original: Tarantino é uma das figuras mais populares e controversas de Hollywood. Como a Academia sempre hesita em premiá-lo com melhor filme ou melhor direção – como poderia tê-lo feito em Pulp Fiction ou mesmo em Bastardos Inglórios -, sempre resolvem dar pra ele o prêmio de melhor roteiro original como consolação. Dessa vez, não deve ser diferente.
12 – Melhor Roteiro Adaptado: Little Women é o claro favorito dessa categoria e, numa situação normal, levaria fácil. No entanto, com a concorrência de O Irlandês, acho que o prêmio vai acabar parando nas mãos de JoJo Rabbit. Porque, afinal, a Academia sempre gosta de premiar um filme que fale (mal) dos nazistas.
13 – Melhor figurino: Era uma vez em Hollywood está disparadamente na frente nas casas de aposta. Mas, se prevalecerem os argumentos estritamente técnicos, O Irlandês deve levar mais uma estatueta pra casa, o que acho que vai acontecer.
14 – Melhor maquiagem: O mais lógico seria que o prêmio nessa categoria fosse para Judy ou mesmo para Joker. Mesmo assim, se tiver que chutar, chutaria que Bombshell leva pra casa a estatueta.
15 – Melhor canção: Depois de ser ignorado em tantas outras categorias, não é possível que Rocketman vá perder na categoria de melhor canção. Afinal, não é todo dia que temos Elton John e Bernie Taupin concorrendo ao Oscar.
16 – Melhor trilha sonora original: Essa é barbada. Ninguém tira de Joker o prêmio nessa categoria.
17 – Melhor documentário: Uma previsão que normalmente não fazemos por aqui, mas que dessa vez se justifica ante a presença de uma brasileira entre os concorrentes. Apesar da justa indicação, é praticamente impossível que Democracia em vertigem tire o Oscar de American Factory. Não somente porque do lado deste temos nada menos que Barack e Michelle Obama, mas também porque o documentário foca em algo muito próximo aos americanos, que, afinal, são os donos da festa. Se uma zebra – zebra, não: ZEBRAÇA – acontecer e Petra Costa levar o Oscar, acredito sinceramente que ela deva agradecer à “campanha” do governo brasileiro, porque somente isso poderia explicar uma vitória tão improvável.
18 – Melhor Direção: Se a “lógica” prevalecesse, os membros da Academia deveriam dar o Oscar a Martin Scorcese de olhos vendados e pedir desculpas pelas inúmeras vezes em que ele foi caronado no Oscar. Sempre é bom lembrar que o diretor de épicos como Taxi Driver, Raging Bull e Goodfellas só ganhou uma única estatueta até hoje, e por um filme que não se encontra nem sequer entre os seus cinco melhores (The Departed). No entanto, se tem uma coisa em que Scorcese é especialista é em ser esnobado pelo Oscar. Pior pra Academia, que vai amargar mais uma de suas vergonhas históricas. Quem vai ganhar? Sam Mendes, que vai subir lá todo constrangido e pedir desculpas por estar recebendo o prêmio no lugar dele.
19 – Melhor filme: Há anos em que é difícil escolher um “melhor” filme, tal é a falta de qualidade dos concorrentes. Neste ano, porém, a disputa está acirradíssima e pelos melhores motivos possíveis: há muitos bons filmes concorrendo. Embora nada justifique a exclusão de Rocketman da lista e muita gente boa não entenda a não indicação de Meu nome é Dolemite, não dá pra dizer que ninguém está ali injustamente Não deixa, portanto, de dar um pequeno aperto no coração ter que escolher só um deles para receber o prêmio. Se fosse eu a escolher, o prêmio iria para O Irlandês, é claro. Os entendidos, no entanto, dizem que 1917 vai levar, tal como levará em melhor direção. Para ser do contra e quebrar a banca, creio que o Oscar de Melhor Filme surpreenderá a todos indo para Parasita. Afinal, nada é mais “politicamente correto” e, portanto, mais a “cara da Academia” do que premiar a “diversidade”, quando sua história mostra exatamente o contrário.
A sorte, pois, está lançada. Na próxima semana saberemos se o Blog continua com o pé calibrado em suas previsões hollywoodianas, ou se o feitiço foi definitivamente quebrado com as duas recentes derrotas no Bolão.
Quem viver, verá.