Continuação do post da semana passada
Depois de ouvir isso de Ana Clarissa, a mãe subiu nas tamancas:
“O seu pai internado em um país estranho e você vem me encher o saco com liderança de sala?!? Tenha paciência, minha filha!!!”, encerrou bruscamente a mãe.
Como se a indecisão por si não bastasse, Ana Clarissa ainda tinha um tio chato que adorava lhe aperrear o juízo. Alcançada pelo telefone, Ana Clarissa explicou para o tio a sua situação:
“Pois é, tio. Eu estou aqui no exterior, sem saber quando é que eu vou voltar e as pessoas lá na escola estão me esperando para tomar posse como líder de sala”.
“Ué? Por que você não colocam o vice pra assumir?”, perguntou o tio, disfarçando a intriga na questão.
“Porque não pode, tio, né? A líder sou eu”, respondeu Ana Clarissa.
“Mas o vice é justamente pra esses casos, Clarissa. Quando o titular não está, o vice é quem responde. Como você não pode assumir, o vice assume no seu lugar”, explanou o tio chato.
“De jeito nenhum!” – interrompeu Clarissa – “Quem foi eleita líder fui eu! O Roberval não tem nada que assumir no meu lugar!”
“Esse é o menor dos seus problemas, Clarissa. Problema vai ser quando ele assumir e não quiser mais largar o cargo”, insistiu o tio chato, já aumentando a dose do veneno no discurso.
“Mas não pode, tio! Eu fui eleita líder! Ele é só vice! Ele não pode ficar no meu lugar!”, tento rebater Clarissa.
“Ué, Clarissa, mas o Temer também não era vice da Dilma?”, explicou o tio, recorrendo ao recente exemplo histórico. “Quem é o presidente do Brasil hoje?”
“Mas a Dilma foi derrubada, tio. Ela fez um monte de coisa errada. Eu não fiz nada. Só estou presa no exterior”, respondeu a sobrinha.
“E o Roberval vai querer saber disso? Quando ele sentar na tua cadeira, vai começar a articular com os outros pra não te deixar assumir quando tu voltar”, disse o tio, já colocando de vez lenha na fogueira.
Ana Clarissa apoquentou-se. Não era possível que ela tivesse o mesmo destino de Dilma Rousseff. Ela tinha que colocar as mãos à obra. Do contrário, quando retornasse ao Brasil seria uma líder deposta.
Mexe daqui, vira dali, Ana Clarissa consegue alcançar a coordenadora da escola. Um áudio de WhatsApp parece a redenção da pequena guria.
“Não se preocupe, Ana Clarissa. Seu certificado de líder está aqui comigo. A gente está sabendo da sua situação. Quando voltar, você assume a liderança”, explicava a coordenadora no áudio.
Imediatamente, Ana Clarissa bateu o fio para o seu tio. Que, obviamente, não se deu por vencido:
“Sei não, Clarissa. Isso pra mim tá com cara de que essa coordenadora só disse isso pra tu não reclamar. Ela deve estar que nem o Cunha com a Dilma: amaciava pela frente e depois metia a faca por trás. Eu tenho pra mim que ela já deve estar articulando pra colocar o Roberval na liderança”, respondeu o engenhoso tio chato.
Os dias se passaram e, como não pudesse fazer mais muita coisa, a Ana Clarissa restou esperar. O tio ficou sem notícias e só depois de 15 dias, quando o pai teve alta e a família retornou ao Brasil, ligou para a sobrinha em busca de notícias:
“E aí, Ana Clarissa, como foi que terminou aquela história da liderança?”
“Eu assumi, tio”, respondeu secamente a menina.
“E o Roberval? Ficou como vice, mesmo?”, perguntou o tio.
“Não”, limitou-se a responder Ana Clarissa.
“Não?!?”, perguntou um espantando tio. “Por quê?”
“Ele fez muita danação no período em que eu estive fora. Minhas amigas me contaram e eu repassei tudo pra coordenadora. Aí ele foi suspenso da escola. E quem é suspenso não pode ser nem líder nem vice”, explicou uma vingativa Ana Clarissa.
E o tio chato concluiu que, mesmo por linhas tortas, poderia ensinar alguma coisa de política para sua sobrinha.