O novo velho mundo da Economia

Quem acompanha o noticiário econômico deve ter visto uma incômoda sensação de notícias. Primeiro, o Banco Central do Brasil aumentou de novo os juros em 0,5 ponto percentual, quando a maioria dos “analistas” esperava um aumento de no máximo 0,25%. Depois, o Banco Central da Turquia deu uma paulada nos juros, subindo a taxa básica da economia de 7,75% para 12% a.a. Na mesma linha, o Banco Central da Índia subiu a taxa de remuneração dos títulos públicos para 8% a.a.

Se isso não fosse o bastante, a África do Sul insinua que também pode trilhar o caminho da alta dos juros, o que elevaria para 4 o número de economias relevantes no mundo disparando o gatilho da restrição monetária. Isso conduz à seguinte questão: o que conduz a essa alta generalizada de juros nas economias periféricas do mundo?

Alguém mais despercebido por pensar, desavisadamente, que o planeta talvez esteja passando por uma epidemia de juros. Uma moda que, como os rolezinhos, tende a desaparecer na mesma velocidade com a qual despontou no cenário. Infelizmente, no entanto, o buraco é mais embaixo.

Para entender o que se passa, há de se afastar, desde logo, a percepção errônea de que todo mundo está no mesmo barco. Ou, em outras palavras, não se pode jogar Brasil, Turquia, Índia e África do Sul – países tão díspares na geografia como nos problemas internos – no mesmo balaio de gatos. Os motivos que ocasionam a subida dos juros nesses países não são exatamente os mesmos. Por isso mesmo, o tamanho da paulada varia de país para país.

Mesmo assim, há algumas circunstâncias que aproximam os cenários desses mundos tão diferentes entre si.

Em primeiro lugar, todos esses países dependem, em maior ou menor grau, das exportações para manter o crescimento econômico. Com a economia mundial andando de lado desde 2008, não é necessário ser nenhum gênio para adivinhar que as vendas externas deixaram de ser salvação pra muita gente. Até mesmo a China, maior exportador mundial, está tentando encontrar formas de fomentar o mercado interno para depender menos das exportações.

Em segundo lugar, todos esses países ostentam déficits relevantes na balança de pagamentos. Uns mais (ao redor de 6% na Turquia), outros menos (aproximadamente 3,5% no Brasil), mas todos enviam mais dólares para o exterior do que recebem. Para não correrem risco de uma crise que conduza eventualmente a uma moratória, recorre-se à subida dos juros para trazer o famoso “capital volátil” e fechar a conta do balanço externo.

Em terceiro lugar, justamente por causa do déficit na balança de pagamentos, todos esses países encontram-se com a cotação da moeda pressionada. Seguindo a velha lei da oferta e da procura, com menos dólares entrando no país, maior tende a ser o valor da moeda americana. E, por conseguinte, menor tende a ser o preço que se paga pela moeda local. Para evitar maxidesvalorizações que venham a desarrumar o conjunto da economia, opta-se pela subida de juros.

Em quarto e último lugar, a inflação anda meio saliente em todos esses países. Como ninguém está afim de atiçar o dragão com vara curta, a paulada nos juros tende a esfriar o panorama econômico e neutralizar a depreciação do valor da moeda decorrente da desvalorização cambial.

Nesse contexto, não é de se admirar que uma providência que deveria ser tida como benéfica – a redução gradual do derrame de dólares promovido pelo Banco Central Americano – tenha tido efeito tão grave nas economias de países tão distintos entre si. No fundo, no fundo, estamos a ver uma reprise de um filme já visto pelo menos em três ocasiões: em 1995 (crise do México), em 1997 (crise dos Tigres Asiáticos) e 1998 (crise da Rússia).

Se não dá pra imaginar que o mundo venha a sofrer uma débâcle semelhante ao que aconteceu então, por outro lado é possível concluir a aplicação inexorável de uma máxima que os economistas teimam em contestar: quando os Estados Unidos vão bem, o mundo vai mal; quando vão mal, o mundo vai pior.

E così la nave va…

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