Como todo mundo sabe que a língua é uma coisa viva. Por mais que os gramáticos se esmerem em estabelecer regras particulares que a diferencie dos demais idiomas, sempre o povo encontra uma forma de importar palavras de outras línguas para incorporá-las às próprias. Na maior parte das vezes, a palavra de origem estrangeira acaba sendo adotada pela constatação de que o vernáculo não contém uma correspondente adequada para expressar o mesmo sentido.
Quando isso acontece, normalmente a palavra acaba ganhando algumas adaptações fonéticas para se integrar definitivamente no novo idioma. É o caso, por exemplo, do inglês knock out, expressão que designa a derrubada do adversário numa luta de boxe. À falta de uma palavra que resumisse, a um só tempo, o ato da derrubada e o esporte correspondente, o português acabou incorporando-a como “nocaute”, para guardar a similaridade fonética com a palavra originária. A esse fenômeno de incorporação de uma palavra de origem inglesa ao vocabulário nacional dá-se o nome de anglicismo.
De outra banda, há palavras que já se incorporaram de tal maneira ao vocabulário nacional que, hoje, são escritas da mesma forma que na sua língua materna. É o caso, por exemplo, do “imbróglio”. Aportuguesado, acrescentaram-lhe tão-somente o acento agudo no “o” para diferenciá-lo de seu original italiano.
De um modo geral, ao contrário do que dizia Ferris Büller, os “ismos” são bons. Sejam os de origem inglesa, sejam os de origem francesa (galicismo) ou mesmo o alemão (germanismo). Eles permitem que a língua evolua e não fique estática, diante de novos fatos, objetos ou acontecimentos para os quais não exista uma palavra que os represente de maneira fidedigna na língua pátria.
No entanto, os estrangeirismos em geral podem resultar em corrupções de linguagem difíceis de engolir. Quando isso acontece, está-se diante de um barbarismo, vício que se manifesta através de um erro na grafia, na pronúncia ou no uso equivocados de determinada palavra.
Os exemplos são vários.
Muita gente diz hoje em dia, por exemplo, massivo ou massiva para se referir a algo em grande quantidade ou imenso, tipo “Violação massiva”. Na verdade, a “importação” do massive do inglês dá-se, nesse caso, de forma equivocada, pois a tradução correta do termo para o português é maciço ou maciça. Massivo simplesmente não existe; é um erro grave de grafia.
Outro caso clássico é o da colocação da partícula “à” antes de um endereço, tipo “reside à Avenida Santos Dumont”. O erro certamente de uma deturpação do francês, no qual se escreve habite à. No vernáculo, entretanto, “residir” rege “em” e não “a”, o que elimina a possibilidade de haver um “a” craseado.
O cometimento de erros dessa natureza tende a se acentuar, à medida que a Internet vai se incorporando cada vez mais ao nosso cotidiano. Como grande parte das informações encontra-se em língua estrangeira – especialmente o inglês -, a “adaptação” de palavras estrangeiras pode acabar em erros involuntários como os citados acima. Mas que nem por isso deixam de ser crassos.
Convém, portanto, revisitar os clássicos da língua portuguesa e, na dúvida, sempre consultar o dicionário.
Afinal, ninguém aí quer ser chamado de bárbaro, quer?
A palavra “massivo” existe e está nos dicionários.