A interdição do debate pela pusilanimidade

Quem acompanha o blog já está careca de saber a opinião deste que vos escreve sobre a praga do politicamente correto. A pausterização do mundo, a mediocrização da opinião e a renegação da diversidade são só os aspectos mais visíveis desse mal da modernidade. Mas há um efeito colateral dessa praga quase tão deletério quanto os sintomas principais: a interdição do debate pela pusilanimidade.

Com a história do politicamente correto, todos temos que aceitar as minorias acriticamente, independentemente do que quer que façam. Qualquer crítica a uma atitude simplória a um membro de minoria é logo denunciado como “preconceito” contra a minoria em geral. Tachado de preconceituoso, ao crítico só resta uma de duas opções: ou se rende à contestação e se retira rapidinho do campo de debate, ou então segue nele e aumenta exponencialmente a probabilidade de que venha a ser agredido e/ou execrado.

Vejamos um caso:

O sujeito está na fila do cinema. Vem um sujeito negro e fura a fila. Educadamente, você reclama com o cidadão. Se você der azar de o furador ser um desses militantes non sense, danou-se. O cara vai se recusar a entrar na fila e ainda vai denunciar: “Você só está fazendo isso porque eu sou negro!”

Pronto. É o que basta. Escondido por trás da virtual proteção de ser “membro de uma minoria”, você estará automaticamente condenado à posição de vilão da história: racista, preconceituoso, ignorante, e por aí vai. Pouco importa que o fato desencadeador da confusão tenha sido a furada de fila. Importa apenas que um negro está sendo “discriminado” por um “membro da elite”.

Mas isso não acontece só com negros. Mal disfarçada, a pusilanimidade interdita o debate sob outro manto: o sexismo.

Imagine a seguinte situação: você está na mão da esquerda, na sua. De repente, o carro à frente, na mão da direita, liga a sinaleira para entrar na sua mão. Calculando o espaço, você vê que não dá. E acelera um pouco para passar logo e, com isso, o outro carro possa entrar logo depois do seu automóvel.

Só que o carro da frente não quer nem saber. Liga a sinaleira e dobra de uma vez, na melhor conduta “dane-se quem está atrás”. Aí, claro, você dá aquela buzinada. Obviamente, a mulher não assume seu erro. Pelo contrário. Na condição de “ser oprimido”, ela ainda se sente no direito de passar à sua frente, abaixar o vidro e disparar: “Como é que você faz um negócio desse? Eu sou mulher!”

Pronto. De repente, você, um sujeito polido, educado, respeitador do sexo oposto, subitamente é transformado em sexista, machista, porco chauvinista e sei lá mais o quê.

Assim como no caso anterior, a análise do fato em si é posta de lado. Importa apenas identificar de que lado está a parte que “precisa ser protegida” e a parte “opressora”. Mal comparando, é como uma falácia ad hominem. A qualidade do argumento é ignorada para centrar-se fogo apenas em quem o está enunciando. Com isso, perde a razão, perde o debate e, o que é pior, perde a civilidade.

Infelizmente, isso só começará a mudar no dia em que os membros sensatos das minorias passarem a eles próprios censurarem os insensatos non sense. Os não integrantes estão impedidos de fazê-lo pelas razões expostas acima. Se isso não acontecer, a tendência é só piorar.

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