Acho que todo mundo já ouviu falar do Caminho de Santiago. Desde mais de um milênio atrás, peregrinos do mundo inteiro partem da França ou da própria Espanha em direção à Galícia. Seja em busca de aventura, seja em busca da redescoberta da fé, seja em busca de si mesmo, o destino de todos eles é um só: a Catedral de Santiago de Compostela.
Construída entre os séculos XI e XII, a Catedral galega é um dos marcos da cristandade. Pode não ser a maior (São Pedro). Pode não ser a mais bonita (Chartres). Pode nem mesmo ser a mais imponente (Notre Dame). Mas, mesmo assim, a Catedral de Santiago de Compostela é disparado a que mais emociona.
Emociona, por óbvio, os peregrinos. Ao chegarem da estafante jornada pietonal, cansados, a visão da imponente Catedral pairando sobre o planalto da Galícia é uma recompensa mais do que merecida para quem enfrentou os limites do próprio corpo para, de certo modo, conhecer a si mesmo durante o percurso. Mal comparando, acredito que os peregrinos sintam-se um pouco como Jó: submetidos às piores provações para depois serem premiados pelo Todo-Poderoso por seguirem acreditando.
Emociona, também, aqueles que, mesmo sem percorrerem o Caminho, apenas vêm para visitar Santiago de Compostela, uma pequena e pacata cidade medieval encravada no norte da Espanha, conhecida pela hospitalidade do seu povo e pelo charme de suas construções históricas.
Antes do atual edifício, situava-se no lugar uma pequena catedral, muito mais acanhada do que a atual, erguida onde supostamente se encontraram os restos mortais do apóstolo Santiago. Segundo a lenda, ele teria sido responsável por evangelizar a Península Ibérica, e lá teria morrido após cumprir a missão confiada por Jesus Cristo.
A Catedral de Santiago de Compostela é um dos melhores exemplos da arquitetura romântica, predecessora do estilo predominante da Baixa Idade Média: o gótico. A Catedral segue a estrutura de uma cruz, com uma grande nave central, ladeada por pequenas capelas onde os fiéis poderiam rezar quando não houvesse as celebrações ordinárias.
Dentro da Igreja, a grande atração é o altar maior, onde há uma representação ricamente da figura de Santiago. Os peregrinos e os visitantes da Catedral podem entrar por uma breve passagem que existe por detrás do altar, que conduz até as costas da imagem. Segundo a tradição, deve-se abraçar a imagem ao chegar lá. Penso eu que deve ser uma forma de ao mesmo tempo agradecer e prestar homenagem ao Santo.
Reza a lenda que a Catedral fica mais bonita em dias de chuva, o que é irritantemente uma constante em Santiago. De fato, a Catedral fica mais bonita molhada. Não por outra coisa mas, segundo penso, porque a água ajuda a disfarçar as manchas trazidas pela idade ao majestoso edifício.
Se você tiver disposição e coragem suficiente para fazer o Caminho de Santiago, invariavelmente vai acabar conhecendo a Catedral. Se não for o caso, se um dia você for a Portugal ou à Espanha, não deixe de dar uma esticadinha até a Galícia. Afinal, se há mais de um milênio peregrinos do mundo todo caminham centenas de quilômetros até chegar lá, deve haver uma boa razão para isso.