Os problemas da transitividade verbal

Ontem foi o aniversário da Icsa. E como eu sei que é afeta às dicas de português postadas aqui, vou revisitar essa seção, que anda um tanto abandonada.

Um dos erros mais comuns praticados na língua falada e escrita diz respeito à transitividade verbal. Quer dizer, quando o verbo pede o auxílio de uma preposição para fazer sentivo.

Em princípio, a questão é simples. Há quatro possibilidades de transitividade: verbos intransitivos, verbos transitivos diretos, verbos transitivos indiretos e verbos transitivos diretos e indiretos. Até aí, tudo bem. A porca começa a entortar o rabo quando se necessita classificar determinado verbo em uma dessas categorias. Fora isso, há casos um bocadinho mais complicados, quando o verbo, por exemplo, muda de transitividade de acordo com o sentido e, é claro, o caso dos objetos diretos preposicionados.

O primeiro passo para resolver a questão é separar os casos de verbos intransitivos das outras categorias. Isso é relativamente fácil. Toda vez que a frase bastar-se com o verbo, sem necessidade de complemento, estaremos diante de um verbo intransitivo. Por “bastar-se”, entenda-se, fazer sentido completamente sem qualquer “explicação” posterior.

Exemplo clássico de verbo intransitivo é dormir. Na frase “eu durmo”, é possível ao interlocutor entender completamente a ação expressa na frase. O sujeito está dormindo. Qualquer coisa que se acrescente à frase será, por assim dizer, supérfluo. Dizer que estou dormindo na rede, na cama, será apenas um adjunto adverbial de lugar.

Quando o verbo “pede” um complemento, quer dizer, quando a frase não fizer sentido inteiramente quando só estiverem presentes o sujeito e o verbo, estaremos diante de um verbo transitivo. Exemplos: comprar – quem compra, compra algo (transitivo direto); precisar – quem precisa, precisa de alguma coisa (transitivo indireto); oferecer – quem oferece, oferece algo a alguém (transitivo direto e indireto).

Mas como saber quando um verbo é transitivo direto, indireto ou transitivo direto e indireto?

Infelizmente, não há regra definida para isso. Como diz a propaganda do Stilo, ou você sabe, ou você não sabe. Uma dica que posso dar é listar abaixo alguns verbos que são comumente – e erroneamente – falados e escritos como se fossem transitivos indiretos, quando, na verdade, são transitivos diretos:

– Pisar: quem pisa, pisa algo ou alguém. É errado falar “proibido pisar na grama”. O correto é pisar a grama.

– Implicar (com sentido de produzir uma conseqüência): Uma coisa implica outra, e não “implica em outra”, como normalmente é falado por aí. Implicar só é transitivo indireto no sentido de brincar ou pertubar: Fulano implicou com Beltrano.

– Esquecer: quem esquece, esquece alguma coisa. O verbo só se torna transitivo indireto quando é reflexivo (esquecer-se): quem se esquece, se esquece de alguma coisa.

Há também o inverso, verbos transitivos indiretos que são conjugados equivocadamente como diretos.

– Visar (com o sentido de objetivar): O Vasco visa ao título brasileiro. Visar só é transitivo direto quando tem o sentido de apor a assinatura: O gerente visou o cheque.

– Aspirar (com o sentido de desejar): O Brasil aspira a um lugar de relevo no cenário internacional. Aspirar só será transitivo direto quando tiver o sentido de inalar: Ele aspirou um gás leta.

– Namorar: Brad Pitt namora Angelina Jolie. Sim, namorar é transitivo direto. Como brincava um professor de português que tive, quem “namora com” é um pobre coitado que nunca teve namorada.

Agora, foram esses os exemplos que me vieram à cabeça. Espero que vos tenha ajudado.

Quem se lembrar de outros exemplos, favor postar nos comentários.

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