Quem vai à Mauritshuis em Haia normalmente busca uma tela de Rembrandt que já esteve por aqui: A lição de anatomia do Dr. Tulp. Mas, ao chegar lá, você vai se deparar com uma “surpresa”. Sim, o quadro de Rembrant não é a única obra-prima a enfeitar as paredes da antiga residência de Maurício de Nassau. Há outra, diferente, mas tão bela quanto, daquele que provavelmente é o segundo mais importante pintor holandês da história: Johannes Vermmer. Trata-se da moça do brinco de pérola.

Veemer era um sujeito recluso. Pouca coisa se sabe sobre sua vida. Do seu trabalho, conhecem-se pouco mais de 30 quadros, espalhados pelos diversos museus do mundo. Como outro conterrâneo – Van Gogh – Vermeer viveu e morreu pobre. Ganhava nada ou quase nada por suas telas. Por vezes, teve de trocá-las por comida. Sua genialidade, como sói acontecer com pintores, só foi reconhecida depois de morto.
A moça com brinco de pérola é sua obra mais conhecida. Com o tempo, a tela ganhou o apelido de “Mona Lisa do Norte” ou “Mona Lisa Holandesa”, tal é a perfeição da obra.
Não é pra menos: poucas telas conseguem passar a quem a vê uma quantidade tão misturada de emoções. Primeiro, o sentido erótico: a moça, no auge da juventude, transpira pureza e sensualidade. Ao mesmo tempo, a moça evoca a inocência de uma juventude ainda não perdida. Parece que está a meio caminho entre a adolescência e a fase adulta.
O fundo escuro é tudo nessa tela. É ele quem dá o realce para o rosto e a indumentária da mulher. Olhando-se de longe, pode-se pensar que a moça é ela mesma uma pérola. Segundo alguns, essa foi a intenção de Vermeer: retratar a mulher como uma jóia. E a pérola significaria a castidade, pura e branca.
O segundo, digamos, “segredo” da tela é a posição do pescoço. De início, pensa-se que ela atende a um chamado de alguém que estava atrás. Vira a cabeça como se quisesse atender a um chamado. Mas, por outro lado, a leve queda da cabeça para a esquerda dá a entender que, na verdade, a posição da moça já era aquela; trata-se de uma posição de insinuação para alguém. Tipo: “Ô, cuida de mim”. Daí o certo apelo erótico do quadro.
O toque exótico do quadro é dado pelo turbante em azul, completamente fora do contexto da época. As mulheres não se vestiam assim, e é possível que Vermeer tenha utilizado apenas para compor a tela, permitindo a sombra por trás da cabeça e deixando o rosto ainda mais iluminado e em destaque.
Embora pouco se saiba de Vermeer e de sua obra, um filme foi lançado em 2003 sobre o quadro. Girl with a pearl earring conta com Colin Firth (O Discurso do Rei) no papel de Vermeer e Scarlet Johansson (Vicky, Christina, Barcelona) no papel da moça com o brinco de pérola. Eu mesmo ainda não assisti, mas, para quem quiser, abaixo vai o trailer:
Isso não dispensa, contudo, uma ida a Haia, para conhecer essa magnífica obra-prima da pintura universal.
Acho que o tal do apelo erótico tem mais a ver com o filme da Johansson do que com a tela em si.