O apaziguamento e o Acordo de Munique

Um dos assuntos mais debatidos, estudados e documentados da história é a II Guerra Mundial. No entanto, mesmo sessenta e poucos anos depois de seu fim, muita coisa ainda continua mal resolvida. É difícil chegar a um consenso em relação a certos assuntos. E um dos mais polêmicos reside nas causas que conduziram ao conflito mais mortífero de todos os tempos. É dizer: todo mundo está mais ou menos de acordo quanto a quais sejam as causas. O problema é definir qual foi – ou quais foram – a mais decisiva.

Algo sobre o qual existe certo consenso como fator decisivo para o desencadeamento da II Guerra foi a chamada “política de apaziguamento”, política esta que conduziu ao Acordo de Munique, em 1938.

Depois de ter anexado a Áustria em março daquele ano e ter iniciado dois anos antes uma corrida armamentista a olhos vistos, Hitler queria porque queria anexar partes da Polônia, da Tchecoslováquia e da Hungria. Nas regiões conhecidas como “sudetos”, viviam povos de origem germânica. E uma das plataformas de campanha de Hitler era reunir todos os povos “alemães” sob uma única bandeira. Era o chamado pangermanismo.

Hitler fez o que pôde. Ameaçava com invasão e tomada à força dos territórios “germanófilos”, mesmo sabendo que as fronteiras reivindicadas haviam sido legalmente reconhecidas por todos os envolvidos desde 1919. Num misto de covardia e esperteza, Chamberlain, primeiro-ministro inglês, e Daladier, seu congênere francês, resolveram compor com Hitler. Para isso, tiveram o apoio do embaixador americano em Londres, Jospeh Kennedy, pai do futuro presidente John Kennedy.

Na teoria, a iniciativa era válida. Afinal, ninguém queria mais uma guerra como a Grande Guerra de 1914. França e Inglaterra ainda estavam em processo de reconstrução pós-guerra. Os Estados Unidos estavam no auge de sua política de isolamento (ou, em outras palavras, “dane-se o mundo; preocupo-me só comigo”). Pra piorar, o mundo ainda estava saindo do período de pior crise econômica até então: a Grande Depressão.

A idéia ainda trazia consigo um bônus: ajudando a Alemanha, pensava-se em estabelecer um “freio” no meio da Europa contra aquele que era considerado o maior perigo da época: o comunismo soviético. Uma Alemanha forte, pensavam os apaziguadores, impediria qualquer iniciativa expansionista por parte da União Soviética.

Assim posta a questão, Chamberlain, Daladier e Mussolini , sob o olhar complascente de Joseph Kennedy, reuniram-se com Herr Hitler em Munique. Aquiesceram com a anexação dos sudetos, “desde que fosse a última reivindicação territorial da Alemanha”. Ou o famoso: “Só mais essa vez, tá?”

Na prática, porém, a teoria era outra. Hitler já mandara arquitetar o plano de não-agressão com a União Soviética, o que o deixaria livre do risco de uma guerra em duas frentes, como acontecera na I Guerra Mundial. Com novas táticas de guerra e armas tecnologicamente mais modernas, Hitler tinha certeza de que o mundo estaria a seus pés.

O Acordo de Munique apenas adiou um fim que boa parte das pessoas sensatas da época já esperavam. Churchill era uma delas. Muita gente deu gás a Hitler pensando que seria um “mal menor” frente ao “perigo vermelho”. Mal sabiam elas que somente a união das três maiores forças militares da época (URSS, EUA, e Reino Unido) seria suficiente para dobrar o avanço nazista.

Para todo o sempre, a política de apaziguamento e o Acordo de Munique ficaram marcados na história como episódios malditos da diplomacia internacional. Toda vez que se faz referência a ambos, é para ensinar “o que não se deve fazer”.

Restou, contudo, uma lição a tirar: o apaziguamento só torna o agressor mais agressivo.

Lição aprendida à custa de 50 milhões de mortos.

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