As obras públicas, ontem e hoje

Hoje recebi reclamações sobre o post acerca das obras públicas. Disseram-me, por exemplo, que eu não poderia comparar um estádio (PV) com uma ponte. Além disso, seria demasiado comparar Portugal com o Brasil. Portugal seria 1º mundo; o Brasil, não.

Portugal – dentro do contexto europeu, pelo menos – é um país pobre. Basta ver a crise que enfrenta. Comparado com as nações mais ricas da Europa, perde de longe. E mesmo com as economias de porte semelhante, como a Dinamarca, ainda assim ficaria classificado como “periferia” da Europa.

Ok. Periferia da Europa ainda é muito mais do que os melhores bairros das melhores cidades brasileiras. Mas isso não autoriza o raciocínio de que fazer obras públicas por lá teria que necessariamente ser mais eficiente que aqui.

Para comparar pontes, basta ver o caso da Rio-Niterói.

Portento por sobre a Baía da Guanabara, a ponte Rio-Niterói começou a ser construída em janeiro de 1969. Em março de 1974, quem imbicava o carro na Ponta do Caju descia do outro lado em Niterói. Desvios? Dizem que houve. Mas o prazo foi cumprido. À risca.

A ponte tem quase 14km de extensão. Além disso, os vãos vão até a 300m de altura, para não prejudicar a navegação de cargueiros até o porto. Assim como a Vasco da Gama em Lisboa, a Rio-Niterói tornou-se (mais) uma atração turística da Cidade Maravilhosa.

“Ah, mas a Ponte Rio-Niterói foi construída na ditadura, no melhor estilo chinês”. Ou então: “Não dá pra comparar ponte com estádio”.

Tudo bem. Vamos comparar estádio com estádio. Em tempos democráticos, é claro.

O ano era 1948. No mundo pós-guerra, ninguém estava disposto a gastar grana pra receber mais uma edição da Copa do Mundo. Já que não tinha alguém no páreo, o Brasil resolveu se candidatar. Os velhinhos da Fifa pensaram: “Bom, se só tem tu, vai tu mesmo”.

Era preciso construir algo grandioso pra receber a Copa. Não só pra receber a Copa, mas para projetar o Brasil no mundo, sempre com sua eterna promessa não cumprida de ser os “Estados Unidos do Hemisfério Sul”. Decidiram, então, construir o maior estádio do mundo.

E assim nasceu o Maracanã.

Em agosto de 1948, lançaram a pedra fundamental do Estádio. Menos de dois anos depois, em junho de 1950, o Maracanã recebeu as seleções do Rio e de São Paulo para um amistoso. Didi, o mestre da folha seca, foi o primeiro a fazer um gol no Maraca.

Isso em menos de dois anos. Mesmo sendo o maior estádio do mundo. E “apesar” de ser no Brasil.

O que ninguém consegue explicar é: o que mudou de lá pra cá?

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2 Responses to As obras públicas, ontem e hoje

  1. Avatar de joelson monte alto joelson monte alto disse:

    o condutor da construção da ponte rio-niterói morreu pobre(andreazza); o condutor da construção de brasília morreu com o mesmo patrimônio de antes da construção(israel pinheiro); o pres. juscelino morreu pobre > percebeu a diferença ? percebeu o modelo de homem público gerado no movmento político brasileiro? é fácil imaginar o que acontecerá com as obras para a copa do mundo. a reforma da fonte nova, na bahia, por exemplo, foi orçada inicialmente em 570 milhões > já reformulado para 1 bi e 300 milhões > mas o governador estava na china ao lado da sra. presidente. sinais dos tempos, sinais do novo padrão brasileiro.

    • Avatar de arthurmaximus arthurmaximus disse:

      De fato, Joelson, a Copa e as Olimpíadas no Brasil são a crônica de um superfaturamento anunciado. Basta ver o que aconteceu no Pan. Até tenho que escrever um post sobre isso. Abraços.

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