Dando a cara a tapa – Série especial das eleições: “O segundo turno”

Satanismo. Maçonaria. Pílula para aborto.

Se alguém esperava que no segundo turno finalmente os principais candidatos nos brindassem com propostas para os próximos quatro anos, enganou-se redondamente. O nível da campanha, que já roçava o rés-do-chão no primeiro turno, desceu literalmente ao esgoto depois de 2 de outubro.

Não que isso fosse absolutamente inesperado, que fique claro. Quando há de um lado Carluxo e seu “Gabinete do Ódio”, coisa boa é que não deve vir. O que houve de surpresa, por assim dizer, foi a aparição de um “Carluxo da esquerda”. André Janones e seu “janonismo cultural” provaram que, assim como na física, a Terceira Lei de Newton também se aplica às campanhas eleitorais, com uma reação de mesma intensidade da ação promovida, mas em sentido contrário. Pela primeira vez desde 2018, o bolsonarismo encontrou um rival à altura nas redes sociais.

Mas é claro que o segundo turno não se resumiu a isso. A porteira dos limites eleitorais, já devidamente arrombada pela “PEC Kamikaze”, terminou de ser derrubada com a proximidade da rodada final do pleito presidencial. Além dos mais de R$ 100 bilhões despejados sobre os eleitores mais pobres desde julho, o Governo ainda antecipou o que podia e o que não podia de verbas autorizadas nessa burla orçamentária, numa derrama de aproximadamente R$ 16 bilhões só entre as quatro semanas que separavam o primeiro do segundo turno.

Isso, porém, não foi o pior. Pior mesmo foi a infame autorização para liberar-se crédito consignado aos beneficiários do auxílio-brasil. Pagando juros de quase 80% ao ano, essa modalidade de crédito representou a mais vil baixeza de todo rol de “bondades” que o Governo patrocinou nestas eleições (e olha que a disputa é grande). A idéia, por obvio, era aumentar o chamado feel good factor – a nossa velha e boa sensação de bem estar – entre a camada mais necessitada da população.

Com aproximadamente R$ 2.100,00 por beneficiário, o mimo oferecia risco zero para quem emprestava, pois o dinheiro seria descontado diretamente do ervanário pago pelo Governo, ao mesmo tempo em que podava 1/3 do benefício futuro dos miseráveis que o recebiam por quase dois anos. Ora, se o sujeito mal consegue sobreviver com R$ 600,00, como imaginar que sua situação possa melhorar recebendo apenas R$ 400,00 por mês?

Além do ataque no front econômico, Bolsonaro tratou logo de fidelizar a base antipetista que resistia ao seu nome no primeiro turno. E foi assim que Romeu Zema (Minas Gerais), Cláudio Castro (Rio de Janeiro) e Rodrigo Garcia (São Paulo) aderiram de corpo e alma à campanha do presidente. Não bastasse o poderoso instrumento da máquina federal, Bolsonaro contaria agora com as máquinas dos três estados mais populosos do país, onde provavelmente a eleição seria decidida.

Nesse cenário, a Lula restou reorganizar sua base e fazer o que, por conveniência ou por soberba, não quis fazer no primeiro turno: correr ao centro. Simone Tebet, uma das poucas pessoas das quais se pode dizer que saiu da eleição de outubro muito maior do que entrou, não hesitou em mergulhar de cabeça na campanha petista. Ciro Gomes, que fez o caminho contrário ao de Tebet (saiu muito menor do que entrou), preferiu trancar-se em seus rancores e gravar um vídeo chocho, no qual “declara apoio” a Lula sem citar em nenhuma vez o nome do babalorixá petista ou de seu partido. Se Bolsonaro tinha a força da máquina, Lula teria a força da opinião pública, quase toda ela horrorizada com a perspectiva de continuidade do governo atual.

Foi de posse dessas armas que Bolsonaro e Lula travaram a disputa pelo posto de mais alto magistrado da Nação.

Como se definiu o resultado?

É o que saberemos no post de amanhã.

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