2020: o ano que não houve

Pois é, meus caros. 2020 está chegando ao fim e, por mais que se queira enganar, poucas vezes o mundo vivenciou um ano tão ruim sob tantos aspectos diferentes.

O signo deste 2020, por óbvio, foi a pandemia de Covid-19. Se em janeiro Trump parecia reeleito, a bolsa estava prestes a romper a máxima histórica e tudo se encaminhava para mais um ano de rame-rame no Congresso, no final de fevereiro o panorama era bem outro. Assim como em um filme de terror, o mal que surgiu na China e se alastrou pela Ásia começou a chegar deste lado do mundo. As cenas de lockdown e desespero nas UTIs de países como Itália, Espanha e França pareciam um prenúncio de que boa coisa não nos esperava.

E foi justamente isso que aconteceu. Já em março, o vírus foi oficialmente detectado no Brasil e o desespero tomou conta de todos. Sem uma coordenação nacional única e com o presidente aparentemente mais empenhado em agradar à sua turba mais ensandecida com discursos raivosos em frente ao Forte Apache, prefeitos e governadores tiveram que se virar nos 30 para tentar fazer frente a um inimigo que pouco se conhecia e menos ainda se sabia como combater.

Entre negacionismos torpes e uma injeção de dinheiro sem precedentes na Economia, a Ciência desde então corre em busca de uma solução para a doença que vitimou mais de 1,5 milhão de pessoas mundo afora (180 mil só no Brasil). Hoje, somente quem acredita nas teorias conspiratórias que transitam loucamente pelo WhatsApp pode negar que estamos mais próximos do que nunca de uma solução. A menos que você seja um daqueles que crê piamente que tudo não passa de um plano diabólico de Bill Gates com George Soros para implantar um chip no seu corpo, que permitiria à China controlar sua mente e transformá-lo numa espécie de zumbi, a vacina está logo ali, ao alcance da mão.

Obviamente, a vacina sozinha não vai mudar muita coisa. Enquanto não houver gente imunizada em quantidade suficiente – e por “suficiente” entenda-se: mais de 70% da população mundial – máscaras e isolamento social ainda farão parte do nosso cotidiano. Os desafios logísticos da vacina da Pfizer,  que demanda ultrafreezers capazes de mantê-la resfriada a temperaturas que beiram os 70 graus negativos, é apenas o exemplo mais emblemático de como é penosa e desafiadora a tarefa de vacinar tanta gente.

Por muitos motivos, mas principalmente por conta disso, 2020 provavelmente passará à História como “o ano que não houve”. Planos foram adiados, crianças perderam o ano escolar nesse autoengano a que convencionamos chamar de “ensino online” e muita, mas muita gente mesmo, perdeu o emprego ou o trabalho. Tudo aquilo que fora planejado na virada de 2019 viu-se subitamente transplantado para a virada de 2020, como se alguém tivesse apertado o botão de fast forward em nossas vidas e acelerado o tempo para um ano à frente.

Nenhum desses dramas, contudo, terá sido maior do que a dor de quem perdeu a vida ou algum ente querido no meio desse pandemônio. Enquanto muita gente defendia cloroquina ou coisa que o valha para combater um mal que desconhece remédio, as mortes iam se acumulando. Quando não renegavam as mortes em si mesmas – “não está morrendo tanta gente assim” -, os negacionistas simplesmente “justificavam” os óbitos com base em alguma comorbidade do falecido. Ignorava-se, contudo, que hipertensão, diabetes ou obesidade podem até ser classificados como fatores de risco, mas dificilmente levam à morte no curto prazo. Se essas pessoas morreram, morreram não por causa das doenças que tinham, mas da doença (Covid) que pegaram. Quando se tenta minimizar isso, está-se, no mínimo, fazendo pouco caso da dor alheia. E nada pode ser mais desumano que isso.

Por isso mesmo, se você chegou até o final deste ano vivo e com saúde, não resta senão agradecer. Planos podem ser refeitos. Patrimônios podem ser reconstruídos. Só a vida – sim, a vida – é a única coisa que, uma vez perdida, não pode ser recuperada.

Haverá, claro, quem venha a argumentar que o tempo perdido neste ano não também voltará atrás. 2021 pode trazer tudo, menos os meses em que você ficou trancado dentro de casa neste 2020. Mas, de certa forma, o tempo que se foi neste ano pode ter servido pelo menos para você aprender uma lição, talvez a mais importante para todo ser humano: a gente só leva da vida a vida que leva.

Um Feliz Natal e um excelente Ano Novo a todos.

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