A adolescência é retratada na literatura ficcional ou especializada como um período mágico. O abandono das vestes infantis e a entrada na puberdade parecem abrir as portas de um novo e maravilhoso mundo para os imberbes adolescentes. Mas, se é bem verdade que a magia da adolescência marca de forma definitiva a vida de qualquer um, também é exato que ela encerra um período sobretudo cruel. Mal saídos dos braços dos pais, os adolescentes ficam meio sem saber pra onde ir. No meio do turbilhão, entre sonhos e hormônios, brotam as paixões e as decepções. E nenhum lugar é melhor para aferir in loco esse vendaval de emoções do que o recreio escolar.
Certa feita, um pequeno grupo de adolescentes fazia aquilo que quase todos os rapazes da sua idade faziam: matavam aula. Escondidos em um corredor esquecido do colégio, os alunos batiam papo sobre a vida e a festa do último final de semana. De repente, eis que surge no corredor duas das alunas mais cobiçadas daquele ano. Gazeando como eles, as moçoilas andavam pelo mesmo recanto oculto com a graça de quem desfilava por uma passarela.
O grupelho, claro, babava ao vê-las. Mas não iam além disso. Afinal, meninas de quinze anos não estão interessadas em meninos de 15 anos. Quando muito, interessam-se pelos de dezessete. Os que ainda não tinham atingido essa idade eram tratados como idiotas (e é provável que realmente fossem). De todo modo, os renegados sempre enxergavam suas musas com um misto de inveja e desdém. O desprezo com que seus gracejos eram recebidos quase sempre eram encarados como boçalidade (e é provável que realmente fosse).
Um corajoso, contudo, resolveu desafiar a lógica reinante. Tomado de súbito por uma coragem inaudita, encheu o peito de ar, estufou a camisa e assoviou para as donzelas que passavam:
“E aí, gatinhas, o que vocês fazem por aqui?”
Sem sequer levantar a sobrancelha, as garotas passaram incólumes pelos gazeadores. O silêncio foi de tal modo gélido que os mais sensíveis sentiram até a necessidade de esfregar as mãos, para ver se conseguiam se aquecer um pouco.
Seguindo adiante, as duas meninas continuaram com seu desfile. Um pouco mais à frente, estava outro grupo, não de quinzanistas, mas de integrantes do 3º ano. Ostentando a condição de estudantes-sênior, os alunos que frequentavam o último ano do 2º grau estavam mais preocupados em saber o que fariam da vida depois que deixassem o colégio do que propriamente com joguinhos de bem-querer. As meninas, contudo, não queriam saber disso. Dispostas a testar seu encanto, resolveram lançar charme para os garotos.
“E aí, gatinhos, o que vocês estão fazendo por aqui?”, perguntou uma delas.
“Esperando o ônibus”, respondeu o mais velho do grupo.
E as moçoilas aprenderam que, mesmo no colégio, às vezes a vingança vem a galope.