Chegamos ao final desta semana especial de aniversário. Como prometido, vamos responder a uma pergunta fundamental: o que esperar do mundo em 2016?
Fugindo um pouco às previsões pessimistas que circundam o Brasil e sua economia, acredito que tenhamos um ano relativamente tranquilo no cenário internacional. Ao contrário de anos anteriores, em que as tensões entre superpotências fazia pender sobre nossas cabeças um holocausto nuclear e o retorno à Idade da Pedra, ou, ainda, em que os atritos no Oriente Médio fustigavam guerras de média proporção, não acho que tenhamos grandes problemas neste ano de 2016.
De início, ninguém acredita em maiores arroubos russos. Afundado numa crise econômica e às voltas com duas intervenções militares simultâneas (Ucrânia e Síria), Vladimir Putin não terá tempo nem fôlego para incensar novamente o fogo da “Grande Mãe Rússia”. O mais provável é que se contente com as vitórias obtidas até aqui – especialmente a anexação da Criméia – e sossegue um pouco o facho até obter, senão um desfecho positivo, pelo menos um resultado politicamente neutro no pântano ucraniano.
Do lado dos americanos, tampouco se espere grandes espetáculos de demonstração de força mundo afora. Em seu último ano de mandato, tudo que Obama não quer é arrumar mais sarna pra se coçar. Com problemas demasiados em seu próprio quintal, incluindo uma até agora insondável sucessão do seu cargo, o quase ex-presidente americano não terá nem força política nem disposição para abrir novas frentes de batalha no exterior. O mais provável é que se dedique inteiramente ao cenário doméstico e à campanha presidencial. De resto, tentará envernizar um pouco mais aquilo que pretende deixar de “legado” de sua administração, marcado quase que exclusivamente pelo “ObamaCare”.
Na Europa, projeta-se em 2016 mais do mesmo. Passada a fase aguda da crise do Euro, o Velho Continente – aos trancos e barrancos, é verdade – começa a caminhar para a frente. A Alemanha continuará dando as cartas, com o resto da União Européia baixando a cabeça para tudo que Dona Merkel mandar. O desastre grego continua em estado grave, porém estável, e assim deve permanecer até o fim da enésima prorrogação do programa de austeridade que foi imposto à Grécia, no ano que vem.
Se do lado Ocidental o mundo parece relativamente tranquilo, no lado Oriental tudo são incógnitas.
Sabe-se que a China começa a enfrentar uma crise econômica, mas, graças à ditadura do partido único, ninguém sabe exatamente o tamanho dela. Disso resultam duas questões: 1 – até que ponto a crise econômica chinesa é forte o suficiente para abalar o restante da economia mundial?; 2 – até que ponto a queda no crescimento pode tensionar o frágil tecido social chinês e culminar numa crise semelhante à que levou ao Massacre da Praça da Paz Celestial? Ninguém tem ainda resposta para ambas, mas me arrisco a cravar que, apesar do decréscimo econômico, não haverá grandes convulsões econômicas ou sociais no Império do Meio.
Ainda no Oriente, pode-se dar de barato que a Coréia do Norte continuará sendo um fator de tensão para o mundo. Isso porque ninguém sabe ao certo se Kim Jong-un é de fato doido de pedra, ou se, por outro lado, é muito é “ixperto”, explodindo artefatos nucleares – sejam ou não bombas de Hidrogênio – para poder negociar condições de acordo mais vantajosas com as potências ocidentais. A essa altura do campeonato, tenho pra mim que ele se enquadra mais no segundo tipo do que no primeiro.
No Oriente Médio, a boa notícia vem do levantamento das sanções contra o Irã. O retorno dos persas à mesa de negociações representa um enorme avanço na garantia da estabilidade da região, em especial porque afasta, pelo menos por ora, a possibilidade de uma guerra contra Israel. Só isso já contribui e muito para desanuviar o ambiente na região.
Apesar disso, é no Oriente Médio que reside a maior preocupação e fator de instabilidade para 2016: o conflito na Síria e o avanço do Estado Islâmico. Não há fim à vista para a guerra civil síria. Tampouco há ainda uma estratégia coordenada para deter o avanço dos radicais do ISIS. Sem que americanos ou europeus se disponham a intervir de forma mais incisiva no conflito, pode-se estimar que o desastre humanitário continuará gigantesco e, por conseguinte, as migrações em massa e os atentados terroristas ocasionais continuarão a dar as caras por aí.
2016, portanto, apresenta-se para o mundo como um ano de relativa calmaria, no qual a maioria de seus problemas será tratada da mesma forma com que políticos os tratam em tempos de eleição: com a barriga.
Nada, pois, a que não estejamos já acostumados.