Recordar é viver: “A volta de Dunga”

Esse é até bem recente.

Mas, para não dizerem que eu não avisei…

A volta de Dunga

Publicado originalmente em 22.7.14

Sabe aqueles momentos em que você perde o tesão de escrever sobre algo, por ficar com a impressão de que está escrevendo palavras ao vento? Tal é o sentimento que me tomou quando começaram a falar no retorno de Dunga à seleção brasileira.

A mera cogitação da recontratação do técnico já dava a exata dimensão do nível de desconexão da realidade presente na cúpula da CBF. Que a volta tenha se concretizado hoje é algo a se situar na tênue linha que separa o surreal do tragicômico. “Será que a Copa do Mundo ocorreu em outro país?” “Teria o Brasil vencido a Alemanha por 7×1 na semifinal e ganhado da Argentina na final?” Eis as perguntas que assaltariam um interlocutor desavisado.

Nada contra o moço. Foi um volante muito acima da média de hoje em dia, xingou quem tinha de xingar e seu trabalho na seleção é superior em números aos dos dois últimos técnicos do escrete canarinho. O problema não está necessariamente na pessoa do Dunga, mas no que sua volta representa.

O grande problema no retorno de Dunga reside na manutenção de um estado de coisas que conduziu ao desastre do dia 8 de julho de 2014. Justamente em um momento no qual todo mundo clamava por mudanças, a CBF se sai com “mais do mesmo”. No lugar de um técnico supostamente permissivo com mídia e atletas, coloca-se um “linha dura” para enquadrar todo mundo. Não é preciso ser nenhum gênio para imaginar que, quando Dunga fracassar, a “alternativa” será colocar um técnico mais maleável, do tipo Mano Menezes.

Não que os problemas do futebol brasileiro fossem ser resolvidos contratando-se um técnico da “linha Guardiola” para o time. Longe disso. Boa parte dos dramas pelos quais a seleção passa deriva da supervalorização dos técnicos, em detrimento dos jogadores. Mesmo assim, a escolha de Dunga sinaliza que voltaremos a um estilo de jogo que em nada se compatibiliza com a escola do futebol brasileiro: muita força física, poucas trocas de passe e a luta pela vitória a qualquer custo.

A tragédia maior da contratação de Dunga, portanto, é exatamente o que ela aparenta, mas não é: uma volta ao passado. Uma volta ao passado significaria mudar nossa filosofia de jogo e tentar resgatar o padrão de toque de bola que tanto marcou nosso futebol. Depois de vermos duas seleções ganharem em sequência a Copa do Mundo mostrando um futebol muito parecido com aquele que se jogava no Brasil até a década de 80, a resposta da CBF é pisar no acelerador e insistir em um rumo que já se provou errado.

Dunga pode até fazer um bom trabalho, entendendo “bom trabalho” como ganhar de cachorros grandes e conquistar alguns títulos relevantes do cenário mundial. Mas, a cada vitória que conquistar, mais uma pá será lançada sobre a cova na qual jaz, inconformado, o outrora glorioso futebol brasileiro.

É a CBF mostrando que errando é que se aprende a errar.

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